Quando um governo está prestes a afundar, nem os aliados se constrangem mais em abandonar o barco. Foi o que aconteceu na última semana na base de sustentação da presidente Dilma Rousseff. Na esteira da divulgação dos diálogos pela Lava Jato, o PRB e o PP anunciaram o desembarque do governo. O PMDB, maior partido governista, também prepara a sua retirada. A ausência do vice-presidente, Michel Temer, e do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), da cerimônia de posse do ex-presidente Lula na Casa Civil foi calculada. 

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O adeus: Com o vice-presidente Michel Temer à frente, PMDB prepara a saída
do governo. Decisão será tomada no dia 29

 
A desculpa parece ter saído sob encomenda: a ida do deputado federal licenciado Mauro Lopes (PMDB-MG) para a Secretaria da Aviação Civil, na última quinta-feira. Nos bastidores, no entanto, os principais caciques da legenda se reuniam em São Paulo para combinar a defecção. No encontro, que contou com a presença de Temer, Renan, do ex-ministro Moreira Franco e do senador Eunício Oliveira (CE), entre outros, os peemedebistas decidiram antecipar para o próximo dia 29 a reunião do diretório nacional do partido. 
 
No evento, segundo apurou ISTOÉ, oficializarão a saída. Em conversas reservadas, até o ex-presidente José Sarney, aliado de primeira hora do PT nos últimos tempos, decretou o fim prematuro do governo. “Não tem mais sustentação”, disse o maranhense. Em outros partidos da base o sentimento é o mesmo. Na quarta-feira 16, o presidente nacional do PRB, Marcos Pereira, anunciou o desligamento da bancada governista dos 21 deputados da legenda. O dirigente prometeu ainda a entrega dos cargos ocupados pela sigla no governo. Referia-se principalmente ao ocupado por George Hilton (PRB-BA), ministro do Esporte.
 
Contrariado, o baiano tem dado sinais de que não gostaria de deixar a pasta às vésperas das Olimpíadas. O comparecimento, num gesto simbólico, à posse do ex-presidente Lula como ministro-chefe da Casa Civil na última quinta-feira 17 foi um deles. Mas os dirigentes do PRB são taxativos: ou Hilton deixa o ministério ou sai do partido. Nos bastidores, o que se fala é que a decisão é fruto de uma série de conversas entre o presidente do PRB e Temer. Nos últimos meses, os dois têm se reunido com frequência. Já haveria até mesmo um acordo para que o grupo de Pereira assumisse um ministério, num eventual governo comandado pelo peemedebista, em caso de impeachment. 
 
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É oficial: Deputados do PRB erguem o pedido de impeachment: eles
anunciaram a saída da base

 
A debandada do PRB impulsionou reflexões semelhantes nas bancadas do PP, PSD e PR. Na última semana, o deputado federal Jerônimo Goergen (PP-RS) foi um dos que iniciou uma mobilização para que o presidente do partido, Ciro Nogueira (PP-PI), convoque uma reunião de emergência para discutir a possibilidade de se deixar a base e entregar os cargos no governo. Até o momento, mais de um terço dos deputados e senadores já apoiam a iniciativa. Ao todo, a sigla tem 46 deputados federais e seis senadores em exercício. 
 
A senadora Ana Amélia (PP-SC) é uma das entusiastas da saída. “Não podemos ser o último a abandonar este barco”, disse a senadora em discurso. Com relação estremecida desde dezembro do ano passado, as bancadas do PTB e do PDT também passaram a atuar de maneira independente, embora continuem a ocupar cargos na Esplanada. A pressão interna para que os partidos abandonem por completo o governo é grande. Cansado de esperar, o senador e ex-governador do Distrito Federal Cristovam Buarque deixou o PDT, após 11 anos de militância na sigla, para se somar à oposição no PPS.
 
Além dele, também saiu do PDT o senador Reguffe (DF), ainda em busca de outra sigla. Já a presidente nacional do PTB, a deputada federal Cristiane Brasil (RJ) soltou uma nota, na última semana, na qual “apela à totalidade da bancada trabalhista no Congresso” para que siga o posicionamento do Diretório Nacional do PTB, favorável ao impeachment. “Este governo acabou, não tem mais condições morais de continuar, e é preciso que o Diretório Nacional do PTB e sua bancada parlamentar estejam absolutamente unidas em favor do povo brasileiro”, finaliza a nota. Em meio à janela eleitoral, aliás, o partido tem sido um dos mais prejudicados e parte da sigla atribui isso à indefinição do cenário político. 
 
O PSD na Câmara, por sua vez, recém-eleito presidente da Comissão Especial do Impeachment, Rogério Rosso (DF), subiu o tom ao comentar as denúncias mais recentes contra o governo. Para ele, as revelações “abalam” a base. Caso seja confirmada a ida de Lula para a Casa Civil com a intenção real de se obter foro privilegiado, Rosso disse considerar a decisão “muito grave e um possível atentado aos princípios constitucionais”. Nos próximos dias, ele pretende reunir a bancada do PSD para reavaliar a conjuntura e até mesmo o posicionamento da sigla com relação ao governo.