O ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, deixou o almoço com a presidente Dilma Rousseff, na quarta-feira 9, com uma missão: medir o descontentamento do PMDB com o governo. Saiu de lá e foi direto ao Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente e líder nacional da sigla, Michel Temer. O diálogo, que durou cerca de trinta minutos, não poderia ser mais desanimador para o Palácio do Planalto. Na conversa, Temer sinalizou que o PMDB está prestes a desembarcar do governo petista. 

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Sem diálogo: O vice Temer (à esq.), do PMDB, e o ministro petista 
Jacques Wagner: fim da aliança

 
A definição deve sair neste sábado 12, quando caciques peemedebistas se reúnem na convenção nacional da sigla, em Brasília. Projeções do partido estimam que, dos 27 diretórios estaduais do PMDB, entre 10 e 15 são favoráveis ao rompimento – e isso mesmo depois de o governo federal intensificar a velha estratégia de oferecer cargos em troco de apoio. Alguns líderes da legenda defendem uma saída imediata, com a devolução dos seis ministérios ocupados pelo PMDB e a liberação para que os seus deputados e senadores votem a favor do impeachment. 
 
A convenção de sábado decidirá também se Michel Temer será reconduzido à presidência da legenda. Diante da iminente catástrofe política, o Palácio do Planalto apelou para Lula. Mas foi tarde demais. Na quarta-feira 9, Lula se reuniu com lideranças do partido no Senado, onde se acomoda a ala mais afeita ao governo. O que era para ser uma estratégia de aproximação se revelou um enorme fracasso. O presidente da Casa, Renan Calheiros, afirmou que a questão não era mais o impeachment de Dilma, mas o que viria depois dele. 
 
Na verdade, o governo federal perdeu a principal arma que seduzia a legenda: a perspectiva de poder. É pouco provável esperar que um peemedebista parta para o sacrifício político junto com a presidente, desgastada pelos efeitos da recessão econômica e dos desdobramentos do Petrolão. Desde que assumiu, Dilma menospreza o partido e promoveu uma série de manobras desastradas. Não ouviu os conselhos de aliados sobre a necessidade de manter o PMDB próximo. Articulou a criação de novas legendas que absorveriam parlamentares. 
 
Patrocinou a campanha do candidato petista à presidência da Câmara, Arlindo Chinaglia, para aplicar uma derrota no peemedebista Eduardo Cunha. Por fim, tentou dividir o PMDB estimulando, com distribuição de ministérios, rachas tanto na direção da sigla quanto nas lideranças no parlamento. A mudança majoritária de posição do PMDB é um duro golpe para o governo Dilma. O partido, afinal, é um pilar de sustentação da fragilizada base aliada. Possui a maior bancada da Câmara dos Deputados, com 66 parlamentares, e do Senado Federal, com 17 representantes. 
 
São votos cruciais não apenas para o governo aprovar seus projetos do pacote de ajuste fiscal, mas para sobreviver ao processo de impeachment no Congresso Nacional. Desde a democratização, nenhum governo parou em pé sem o apoio do partido. A perspectiva de chegada ao poder do PMDB com o impeachment de Dilma Rousseff pode ser medida pela postura adotada nas últimas semanas pelo vice, Michel Temer. Presidente da legenda, ele tem evitado dar declarações públicas. Teme parecer oportunista ou dar qualquer passo que pareça estar por trás da derrubada da colega de chapa. 
 
Nos bastidores, porém, vem costurando apoios. Mantém contatos diários com lideranças da oposição para sentir a possibilidade de atraí-las na formação de um governo suprapartidário. Sinalizou ser favorável à adoção do semipresidencialismo, uma espécie de parlamentarismo, para conquistar principalmente os tucanos. Sua principal iniciativa tem sido unificar o próprio PMDB. A relação desgastada com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e outros senadores do partido parece ter melhorado. A prova final será a convenção do sábado. Temer pode sair dela à frente do PMDB e a um passo da presidência da República.
 
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