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A economia brasileira encolheu 3,8% em 2015, na maior recessão desde 1990, quando o Produto Interno Bruto (PIB) despencou 4,35% no governo de Fernando Collor. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a crise econômica continuou se aprofundando no quarto trimestre do ano passado, período em que o PIB caiu 1,4% ante o trimestre anterior e 5,9% na comparação com o mesmo período de 2014.

A forte contração da economia está diretamente ligada à queda de 14,1% dos investimentos, chamados de formação bruta de capital fixo. É o maior recuo desde 1996, quando tem início a atual série histórica do IBGE. Segundo o instituto, os aportes despencaram no ano passado devido à queda da produção interna e da importação de bens de capital, com destaque para o desempenho negativo do setor de construção. Em 2014, os investimentos já haviam registrado queda de 4,5%.

A taxa de investimento fechou 2015 em 18,2% do PIB, abaixo do observado no ano anterior (20,2%). Já a taxa de poupança foi de 14,4%, ante 16,2% no ano anterior.

Os analistas já estavam bastante pessimistas em relação ao resultado do PIB de 2015 e o número acabou ficando dentro do intervalo das estimativas. Segundo o AE Projeções, a expectativa era de queda entre 3,70% e 4%, com mediana de -3,9%. No ano passado, o PIB totalizou R$ 5,9 trilhões, enquanto o PIB per capita ficou em R$ 28.876, uma queda de 4,6% ante 2014.

Dentre os setores, apenas a agropecuária (1,8%) apresentou expansão em 2015 – mesmo assim, foi o pior desempenho do setor desde 2012. No ano passado, a soja registrou crescimento de 11,9% em seu volume produzido, enquanto o milho avançou 7,3%. "Essas culturas impulsionaram o crescimento. Por outro lado, culturas importantes tiveram queda na produção agropecuária, como café e laranja", disse Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.

Já a indústria encolheu 6,2%, na maior queda da série histórica iniciada em 1996. Já o PIB de serviços, além de ter a maior queda da série, registrou o único resultado negativo para um ano desde então. No setor industrial, os recuos foram generalizados: construção sofreu contração de 7,6%, enquanto a indústria de transformação teve queda de 9,7%.

O único destaque positivo na indústria foi o desempenho da extrativa mineral, que acumulou crescimento de 4,9%, devido à maior produção de minério e petróleo. A desvalorização do câmbio também contribuiu para elevar as exportações desses produtos. No ano passado, o dólar subiu quase 50% ante o real. Já dentre as atividades que compõem os serviços, o IBGE destaca que o comércio sofreu queda de 8,9%, seguido por transporte, armazenagem e correio, que recuou 6,5%.

Pelo lado da demanda, a queda de 4% do consumo das famílias em 2015 também foi a maior da série desde 1996, registrando o primeiro recuo desde 2003. Segundo o IBGE, a queda pode ser explicada pela deterioração dos indicadores de inflação, juros, crédito, emprego e renda ao longo de todo o ano de 2015. "Essa queda se deve a diversos fatores. Houve deterioração dos indicadores de emprego e renda, e houve crescimento do saldo nominal de crédito, mas em termos reais na verdade houve uma queda", disse Rebeca, do IBGE. Já o consumo do governo caiu 1% – também desacelerando em relação a 2014, quando cresceu 1,2%.

No setor externo, por sua vez, as exportações de bens e serviços cresceram 6,1%, enquanto as importações de bens e serviços tiveram queda de 14,3%. Entre os produtos e serviços da pauta de exportações, os maiores aumentos foram observados em petróleo, soja, produtos siderúrgicos e minério de ferro. Já entre as importações, as maiores quedas foram observadas em máquinas e equipamentos, automóveis, petróleo e derivados, bem como os serviços de transportes e viagens.