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Três novos estudos divulgados nesta quarta-feira, 10, reforçam as evidências de que a epidemia de zika pode estar associada ao surto de casos de bebês nascidos com microcefalia no Brasil. Os trabalhos, provenientes dos Estados Unidos, da Eslovênia e do Brasil, identificaram a presença do vírus no cérebro de bebês com microcefalia e na placenta.

O estudo europeu foi feito em um bebê abortado com microcefalia, cuja mãe havia engravidado no Brasil. A mulher, de 25 anos, optou por interromper a gravidez com 32 semanas de gestação, após uma ultrassonografia confirmar a existência da má-formação, e autorizou a realização do estudo, feito na Universidade de Ljubljana e publicado na quarta no site da revista médica americana The New England Journal of Medicine.

Segundo o relato dos pesquisadores, a paciente era uma mulher europeia que estava fazendo trabalho voluntário em Natal (RN) desde dezembro de 2013. Ela engravidou no final de fevereiro de 2015 e apresentou sintomas de zika – febre alta, manchas vermelhas, coceira, dores nos olhos e musculares – três meses depois. Exames de ultrassonografia realizados na 14.ª e 20.ª semana de gestação não revelaram nenhum problema. O desenvolvimento do feto, até então, era normal.

Com 28 semanas de gestação, a paciente retornou para a Europa e passou por novos exames. Na 29.ª semana, uma ultrassonografia identificou os primeiros sinais de anomalia; e quatro semanas depois, o diagnóstico de microcefalia foi confirmado. A circunferência craniana do feto era de 26 centímetros. Após o aborto, os médicos fizeram uma autópsia da criança e encontraram várias anomalias no cérebro: além do tamanho reduzido, havia vários pontos de calcificação, ausência de dobras e acúmulo de líquidos. A presença do vírus no tecido cerebral foi confirmada por análises genéticas (técnica de PCR) e imagens de microscopia eletrônica. Os pesquisadores suspeitam que o vírus penetre nos neurônios e cause a morte dessas células, interferindo assim no desenvolvimento do cérebro.

Foi possível até mesmo sequenciar completamente o genoma do vírus e compará-lo com o de outras amostras colhidas no Brasil e outras partes do mundo. A maior semelhança foi com vírus colhidos na Polinésia Francesa em 2013 e em São Paulo, em 2015.

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O estudo não identifica a paciente e não esclarece se ela é cidadã eslovena ou viajou para aquele país especificamente para realizar o aborto – que é proibido no Brasil para esse tipo de situação.

Forte evidência

Do Centro de Controle de Doenças e Prevenção dos Estados Unidos (CDC) foi publicado o resultado de análises feitas sobre amostras do Rio Grande do Norte de dois bebês que morreram cerca de 20 horas depois de nascer e de dois fetos abortados. As quatro mães tinham apresentado sinais clínicos de infecção por zika no primeiro trimestre de gravidez. O material, enviado pelo Ministério da Saúde, foi testado positivamente para zika. O vírus foi encontrado em amostras de cérebro dos recém-nascidos, no tecido dos fetos e nas placentas. Testes para outras doenças normalmente associadas a microcefalia, como toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes e HIV deram negativo.

O diretor do CDC, Tom Frieden, se dirigiu ao Congresso americano para pedir apoio aos esforços contra a epidemia e disse que a análise do material genético no cérebro de bebês brasileiros é “a mais forte evidência até agora” da relação entre zika e microcefalia.

Para o virologista brasileiro Pedro Vasconcelos, do Instituto Evandro Chagas, que tinha feito a primeira identificação de zika em um bebê com microcefalia no Brasil (do Ceará), “não há dúvidas de que o vírus é a causa do problema”. Mas afirma que a descoberta de cada vez mais casos só confirma isso. Ele informou ao Estado que seu grupo acabou de identificar em 12 bebês com microcefalia a presença de zika no líquido cefalorraquiano, encontrado no crânio e na medula espinhal. “Isso nos dá a certeza de que estamos no caminho certo e que, como não temos vacina nem tratamento, o alvo tem de ser combater o Aedes cada vez mais.”
 


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