Gabriele de Pinho viveu pouco mais de dez horas. Ela nasceu depois de um parto prematuro – tinha completado apenas sete meses de gestação e pesava 1,5 quilos. Sua única possibilidade de sobrevivência seria ganhar os cuidados adequados a uma criança nas suas condições, com direito a uma incubadora ou ao menos um aparelho que lhe permitisse receber oxigênio. Em vez disso, Gabriele foi colocada em um berço comum e teve como máscara de respiração metade de uma garrafa PET. A outra metade foi utilizada para acudir seu irmão gêmeo, Gabriel. O menino teve melhor sorte. Até a quarta-feira 3, estava internado. A irmã morreu na manhã de 28 de janeiro. Entre outras razões, porque não contou sequer com o auxílio de uma máscara de oxigênio de verdade, recurso cujo preço é cerca de R$ 10 (segundo a Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios).

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VERGONHA
Acima, o hospital de Jutaí, a 750 quilômetros de Manaus.
Abaixo, os irmãos Gabriele, que morreu, e Gabriel

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A história de Gabriela aconteceu no hospital de Jutaí, a 750 quilômetros de Manaus. Seu retrato, junto com o do irmão, usando as máscaras de plástico, chocou o País. O que se viu a seguir foram reações clássicas em episódios do gênero. O governo do Amazonas anunciou que havia máscaras no hospital. Não teriam sido usadas porque o médico, Alaílson Ferreira, considerou que elas ficariam grandes. E que um helicóptero teria sido enviado para remoção a Manaus caso a Secretaria de Saúde tivesse sido avisada da gravidade do caso. Ferreira diz que não há no hospital máscaras para prematuros. “Só para bebês nascidos com nove meses”, disse à ISTOÉ. “Tentamos improvisar para salvar as crianças.” Segundo o médico, há incubadoras novinhas aguardando instalação há um bom tempo. 

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