TERRITÓRIOS – ARTISTAS AFRODESCENDENTES NO ACERVO DA PINACOTECA/ Estação Pinacoteca, SP/ até 17/4

O Brasil tem a maioria de sua população formada por afrodescendentes, mas a presença de artistas negros em suas coleções públicas ainda é uma pálida realidade. A Pinacoteca do Estado de São Paulo poderia ser uma exceção, já que sob a direção de Emanoel Araújo (entre 1992 e 2002), essa produção começou a ganhar vitalidade no museu. Desde o início de 2015 sob a direção de Tadeu Chiarelli, este núcleo de obras começa a ganhar o espaço que lhe cabe. A real dimensão de sua importância é visível hoje na exposição “Territórios – Artistas Afrodescendentes do Acervo da Pinacoteca”.

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ARQUIPELAGO AFRO
”Antes que eu me esqueça”, de Flavio Cerqueira, é uma das aquisições recentes da Pina

A mostra integra as comemorações dos 110 anos da Pinacoteca, quando a instituição intensifica os estudos sobre sua própria história e coleção. Diante da dificuldade em definir um denominador comum entre as cerca de tantas obras da coleção expostas, a mostra divide-se em três áreas, ou três “territórios insulares” de um “arquipélago com ilhas sem conexões evidentes”, segundo Chiarelli.

A mostra abre com as “Matrizes Contemporâneas”, que reúne obras recentemente incorporadas ao acervo de artistas como Paulo Nazareth, Jaime Lauriano, Rommulo Vieira Conceição, Sidney Amaral, Flávio Cerqueira e Rosana Paulino. Ainda que as pesquisas se façam em técnicas e suportes tão diversos quanto a fotoperformance, a instalação, a escultura ou a pintura, é possível discernir nas poéticas contemporâneas um interesse comum sobre a história coletiva e um posicionamento extremamente crítico a respeito da situação atual da população afrodescendente no Brasil.

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RAIZES
”Homenagem a Louise Nevelson”, de Emanoel Araujo, e ”Parede
da memória”, de Rosana Paulino, evocam a matriz africana

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Na sala das “Matrizes Européias” acontece o inverso. Ainda que a maior parte das obras compartilhem da mesma linguagem pictórica, as temáticas seguem gêneros e temas tradicionais disseminados pela estética europeia, sem posições políticas ou buscas identitárias demarcadas. Neste núcleo encontra-se a primeira pintura de um artista negro a ingressar na Pinacoteca: um auto-retrato do pintor carioca Arthur Timótheo da Costa (1882-1923). Há também o olhar do pintor Miguelzinho Dutra (1812-1875) sobre a paisagem interiorana nas primeiras décadas do século 20 e um segmento de pinturas figurativas de Emanoel Araújo na primeira fase de sua carreira.

A fase potente de Araújo está sem dúvida nas “Matrizes Africanas”, sala que agrupa obras de três artistas que dão vazão a buscas das raízes além-mar. Na sala estão uma obra de sugestão ritualística, com pele e plumas de animais, de autoria de Edival Ramosa, e os impactantes “Emblemas” de Rubem Valentim (1922 – 1991), composições geométricas com formas simbólicas, como círculos, setas e imagens gráficas associadas aos orixás. O gran finale da mostra é “Homenagem a Louise Nevelson” (1998-2015), de Emanoel Araújo, que evoca os altares africanos, mas é feita de madeira de demolição de igrejas católicas, promovendo uma associação sincrética de elementos brasileiros.

Fotos: Galeria Casa Triângulo e Paula Alzugaray


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