Photo-Poetics: An Anthology/ Guggenheim Museum, NY/ até 23/3

Vivemos uma era de reinvenções: da política, do cinema, da televisão, da imprensa. À fotografia também se aplica esta máxima. Depois que a imagem e a informação passaram a circular nos registros do .psd, do .jpeg, do .mov, e parecem estar prestes a se afogar no meio digital, cabe aos artistas a recriação das linguagens visuais e a reflexão crítica sobre elas. Foi o que levou Quentin Tarantino a rodar seu filme “Os Oito Odiados”, em Ultra Panavision 70, formato de captação em 70mm, usado em grandes momentos do cinema dos anos 1950-1960. Tarantino e o diretor de fotografia Robert Richardson reaproveitam equipamentos Panavision em câmeras contemporâneas, aproximando digital e analógico. A mesma atitude tem levado artistas a explorar processos, suportes e técnicas de fotografia em vias de desaparecimento, a fim de repensar sua vitalidade. Dez deles estão reunidos na exposição “Photo-poetics: An Anthology”, que o Guggenheim Museum de Nova York exibe até março.

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HOJE E SEMPRE
Obras de Lisa Oppenheim (acima) e Sara VanDerBeek (abaixo) dão
novos significados a clássicos da imagem

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A nostalgia apaixonada que leva Tarantino a reeditar equipamentos obsoletos e gêneros clássicos do cinema, como o Western, é a mesma que leva Lisa Oppenheim a homenagear um clássico da fotografia amadora: o pôr do sol. A artista americanarealizou “The Sun is Always Setting Somewhere Else”, em 2006, ano em que a Kodak parou de fabricar projetores de slides. O aparecimento de câmeras digitais e das práticas de compartilhamento de imagens via internet precipitaram o desaparecimento dos processos e produtos fotográficos, como os slides 35mm. Mas, como a curadora Jennifer Blessing escreve no catálogo, “Oppenheim está menos interessada em lamentar essa transformação do que em usar as mídias fotográficas contra elas mesmas, de forma provocativa”. Por meio de um projetor de slides, um time-lapse primitivo é exibido. Cada slide é o frame de um filme realizado a partir das imagens de pôr do sol publicadas no Flickr por soldados americanos enviados ao Iraque e ao Afeganistão na Guerra ao Terror de George Bush.

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RECONSTRUÇÃO
“Nebolous 55”, criação de 2011 de Erica Baum

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Na exposição, são revisitadas técnicas, mas também circuitos e formatos por onde a fotografia circulou ao longo de seus quase dois séculos de existência. Alguns artistas reinterpretam os modos de circulação da imagem artística. Caso de Kathrin Sonntag, que na série “Annex” (2010), fotografa páginas do catálogo da Christie’s de um leilão de peças da coleção de arte moderna do Guggenheim. As paginas abertas nas obras de Kandinsky, entre outros, são enquadradas sobre mesas do ateliê de Sonntag, em composições que parecem casuais, mas são milimetricamente estudadas, de forma que os objetos apresentem afinidades visuais com as masterpieces modernas. Caso também de Sara VanDerBeek, que se apropria de fotografias em preto e branco de obras arqueológicas na construção de móbiles com peças de cerâmica. Em seus procedimentos, ambas criam espelhamentos entre realidade e representação.

Cortesia Solomon R. Guggenheim Museum, New York; © Sara VanDerBeek; © Erica Baum; Courtesy © Yoko Ono Galerie Lelong New York 


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