Um abalo sísmico de pouco mais de 5 graus na Escala Richter e um anúncio na tevê oficial da Coreia do Norte foram as primeiras evidências de que o ditador Kim Jong-un tinha voltado a ameaçar o mundo. Pouco depois das 10h de quarta-feira 6, pelo horário de Seul (23h de terça-feira em Brasília), cientistas e militares detonaram em instalações subterrâneas no leste do país o que o governo diz ser uma bomba de hidrogênio, o mais potente e mortal tipo de arma nuclear. A ação, que coincide com as comemorações pelo aniversário de 33 anos do ditador, em 8 de janeiro, surpreendeu tanto países inimigos dos norte-coreanos, como Coreia do Sul, Japão e Estados Unidos, quanto aliados, especialmente China e Rússia. A escalada do poderio atômico norte-coreano mostra que a tática chantagista de Kim Jong-un é cada vez mais insana.

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CHANTAGEM
A Coreia do Norte faz testes nucleares para provocar os EUA e seus parceiros

Especialistas internacionais rapidamente colocaram dúvidas sobre a suposta detonação da bomba de hidrogênio. Para eles, as evidências existentes até agora não condizem com a magnitude de uma arma desse tipo (confira quadro). A principal alegação é de que o abalo sísmico provocado pela explosão subterrânea de uma bomba termonuclear seria muito maior, enquanto os registros indicam detonação similar à das bombas atômicas “comuns” testadas pela Coreia do Norte em 2006, 2009 e 2013. “Mesmo uma bomba de hidrogênio falha teria no mínimo 10 quilotons”, diz David Albright, presidente do Instituto para Ciência e Segurança Internacional. “Acreditamos que esse teste tenha sido de 6 ou 7 quilotons.” Análises atmosféricas devem ajudar a determinar se as alegações da Coreia do Norte são verdadeiras. Os serviços de inteligência de EUA, Japão e Coreia do Sul dizem que é possível que Kim Jong-un tenha utilizado uma bomba atômica “comum”, de fissão de urânio ou plutônio, mas com carga potencializada por hidrogênio.

Ao longo do século 21, a Coreia do Norte se utilizou de ameaças nucleares para chantagear os Estados Unidos e seus parceiros em troca de socorro econômico. Também é possível que o ditador Kim Jong-un esteja apenas tentando demonstrar poder antes de se sentar à mesa de negociações para um possível tratado de desarmamento. “É um governo paranoico e que se vê na necessidade de manter essa postura de defesa”, diz Oliver Stuenkel, coordenador de Relações Internacionais da FGV.

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O teste da última semana foi realizado sem aviso prévio. Até mesmo a China, tradicional aliado do país comunista, protestou veementemente e indicou que pode apoiar novas sanções por meio da Organização das Nações Unidas. A ONU, entretanto, tem pouco poder sobre um sistema político e econômico tão isolado. O caminho mais efetivo seria a própria China – responsável por 70% do comércio externo da Coreia do Norte e principal fornecedora de energia, alimentos e armas – impor sanções econômicas. A comprovada imprevisibilidade da Coreia do Norte torna essa estratégia igualmente perigosa.

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Foto: JUNG YEON-JE/AFP 


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