FILHOS DA GUERRA: O CUSTO HUMANITÁRIO DE UM CONFLITO IGNORADO/ Zipper Galeria e Human Rights Watch Brasil/ até 16/1

“Depois de ser assediada por um militar das forças de Bashar al-Assad, Andy o repudia e diz que é comprometida com um homem curdo. O militar diz que ela nunca mais o esquecerá e então a ataca com um ácido que queimou seu rosto e metade de seu corpo. Após o episódio, ela escapa da Síria e consegue asilo em São Paulo”. Esta é a história de uma das vítimas da guerra civil da Síria, que já matou mais de 200 mil pessoas desde 2011. Ela está contada na exposição “Filhos da Guerra: O Custo Humanitário de um Conflito Ignorado”, em texto ao lado da fotografia de Andy, feita por Gabriel Chaim. Uma parceria entre a galeria Zipper e a ONG Human Rights Watch Brasil, a mostra abre um novo foco de interesse da galeria de arte contemporânea, em direção à imagem documental.

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ATIRA E NAJLA
Criança corre entre escombros de Aleppo (acima) e jovem combatente
curda no enterro de amiga, em Kobani (abaixo)

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Ao propor que Chaim buscasse registrar o conflito por meio não só das imagens, mas também das histórias de cada indivíduo retratado, o curador Marcello Dantas confere à exposição proximidade com o formato editorial. Trata-se afinal, de fotojornalismo – o melhor dele –, transposto da página de jornal ou telejornal, ao espaço expositivo.

Mesmo que o curador tenha tomado o partido de preservar as relações entre texto e imagem, próprias do meio jornalístico, o impacto da imagem é imediato e preponderante. A decisão pela ampliação das nove fotografias em grande formato (1,5 m x 2,25 m) acentua a autonomia da imagem, conferindo-lhe um tratamento que destoa do padrão da fotografia documental.

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ANDY
Depois da publicação mundial da foto, mulher síria teve o corpo reconstituído por cirurgias

O brasileiro Gabriel Chaim é um dos únicos fotógrafos estrangeiros que conseguiu transpor a fronteira da Turquia com a Síria e entrar na cidade de Kobane, um dos epicentros do conflito. Suas imagens registram a devastação do lugar e das vidas pessoais de mulheres e crianças que ali ficaram. “Em uma guerra, a mulher torna-se a sociedade. A sociedade passa a ser tocada por ela, uma vez que o homem sai em guerra e ela fica”. O curador ressalta, ainda, que a fotografia de Gabriel Chaim é uma peça de resistência frente às imagens do conflito sírio produzidas pelo Esta Islâmico (EI), que preponderam na mídia. “Essa ausência de imagens que dão a real dimensão do que está acontecendo é uma das dificuldades para entendem o cenário”.

Fotos: Gabriel Chaim, cortesia Galeria Zipper; Paula Alzugaray


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