Foto Colorizada / Divulgação
PIONEIRO Bela Lugosi interpretou Drácula no cinema em 1931

Desde a sua primeira impressão gráfica em maio de 1897, o livro "Drácula", do escritor irlandês Bram Stoker, nunca deixou de ser reeditado. Em mais de um século, a obra inspirou pelo menos 150 adaptações para o cinema, entre elas filmes clássicos realizados por Werner Herzog, Francis Ford Coppola e Andy Warhol (produtor de "Sangue para Drácula") e milhares de versões para a tevê. Um legado invejável deixado por um único livro numa época em que os autores não se punham a escrever continuações para cada publicação que obtivesse sucesso de público – bem diferente, portanto, do que ocorre atualmente com escritores como Dan Brown e seu "O Código Da Vinci" e Stephenie Meyer e sua trilogia "Crepúsculo", sobre vampiros, que virou febre mundial e vendeu cerca de 42 milhões de cópias em três anos.

Atento à contemporaneidade do mercado editorial, eis que agora um herdeiro de Bram Stoker (1847-1912), o seu sobrinho-bisneto, Dacre Stoker, em coautoria com o especialista em vampiros Ian Holt, acaba de lançar na Grã-Bretanha, nos EUA, na França e no Canadá a primeira sequência de "Drácula", 112 anos após o surgimento da obra original. Intitulado "Dracula – The Un-dead"("Drácula – o não morto", em tradução livre), o livro teve o direito de publicação vendido às editoras por nada menos que US$ 1 milhão e já está sendo adaptado para o cinema. No Brasil, a Ediouro chegou na frente e lança-o em fevereiro do ano que vem.

Nessa nova história, os mesmos personagens estão de volta, mas nem todos sobrevivem na trama por muito tempo. O Conde Drácula retorna mais violento do que nunca e com uma insaciável sede de vingança. Os destemidos caça-vampiros, entre eles o especialista Abraham Van Helsing, o médico Jack Seward e o casal Mina e Jonathan Harker, primeiros a se depararem com o vampiro, terão de encarar uma nova guerra contra as forças demoníacas e alguns deles vão ser abatidos logo no começo. Desponta um novo herói: Quincey Harker, o filho de Mina e Jonathan. Recém-formado na Universidade de Direito de Londres, ele encontra o pai morto e empalado em plena Picadilly Circus e então entra em contato com o tenebroso passado de sua família por meio de uma carta deixada pela sua mãe, Mina, na qual há instruções precisas de que ela deveria ser lida apenas em caso de morte súbita ou desaparecimento dos familiares.

A correspondência abre o novo romance e recapitula em poucas páginas, para o leitor de primeira viagem, o drama vivido duas décadas antes e que é o tema da obra original. Para escrever essa continuação, o herdeiro de Stoker, que é professor de educação física e nunca redigira um livro, recorreu às 125 páginas de notas manuscritas por seu tio-bisavô ao longo da criação de "Drácula". Nesse material estão cenas, descrições e também personagens criados por ele e que acabaram ficando de fora da edição final.

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Para integrar essa sequência, foi resgatada do acervo de Stoker uma mulher que de fato existiu e cuja trágica biografia o inspirou na criação da primeira obra. Trata-se da Condessa Bathory, mulher que matava e se alimentava com o sangue de jovens meninas durante o século XVII. Ela é uma personagem extremamente cruel, sedenta por encontros sexuais e que funcionará como importante aliada do morto-vivo, diversificando as suas estratégias e potencializando as suas maldades.

Outro criminoso famoso que entra na trama é Jack, o Estripador, assassino serial que apavorou Londres no final do século XIX e foi tema de romances e filmes. Até que o Conde Drácula se revele, ele surgirá como principal suspeito das macabras e misteriosas mortes. Para realizar essa complexa reconstituição de época, a dupla de autores recorreu a uma larga pesquisa e teve a preocupação de manter o estilo do precursor Bram Stoker, cuja obra revela uma minuciosa atenção aos dados históricos. Mas a maneira de relatar esses fatos foi totalmente revista. Em vez do clássico formato epistolar, o que se tem agora é uma escrita mais direta e vibrante adequada às exigências do leitor contemporâneo.

Os autores atingiram o seu objetivo – o livro vem sendo elogiado por conseguir preservar a atmosfera soturna e ao mesmo tempo criar uma narrativa moderna e eletrizante. Com o intuito de prestar também uma homenagem ao criador Bram Stoker que na vida real dirigiu o Liceu de Teatro de Londres, Dacre incluiu na história o próprio autor como personagem. Ele é diretor e produtor do espetáculo "Drácula" e enfrentará problemas legais – aí entra o jovem advogado Quincey Harker, que vai assessorar o personagem Stoker e nesse meio tempo presenciará a força destruidora dessas criaturas malignas. Não poderá contar com o médico Jack Seward, que foi peça fundamental na primeira saga contra o vampiro e ressurge agora como um dependente crônico de heroína que sofre com alucinações demoníacas. Com o time desfalcado, Quincey terá de buscar em suas origens um caminho para debelar a fúria sanguinolenta e inteligentemente arquitetada por Drácula, cujos caninos se mostram mais afiados do que nunca.


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