EDUARDO BERLINER – A PRESENÇA DA AUSÊNCIA/ Projeto Respiração – Fundação Eva Klabin, RJ/ até 29/11

Eduardo Berliner é o 20º artista a ser convidado pelo curador Marcio Doctors a realizar um projeto de intervenção na Fundação Eva Klabin. Mas esta é primeira vez que a coleção – preservada e exposta em sua disposição original, na casa da colecionadora carioca falecida em 1991 – ganha a visita de um pintor. Em resultado aos meses de observação e convivência com as peças da coleção, Berliner elaborou algumas dezenas de pinturas, que foram distribuídas em todos os cômodos da casa da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio. As obras se colocam basicamente de duas maneiras, em relação aos seus pares – peças que abrangem nada menos que 50 séculos de história da arte. Algumas se impõem com autoridade, como o biombo que atravessa a sala principal, ou os painéis encostados nas cortinas da sala de jantar. Outras estão quase mimetizadas à casa. Silenciosas, escondem-se nos cantos mais sombreados, pregando peças no espectador.

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INTERVENÇÃO
Pintura sobre biombo, instalado na sala principal da casa-museu de Eva Klabin

Em intervenções anteriores do projeto Respiração, artistas como Nelson Leirner, Maria Nepomuceno, Chelpa Ferro e Marcos Chaves movimentaram com liberdade os objetos, recriando alguns espaços da casa-museu. Em seu projeto, Berliner não deslocou nenhum móvel – fisicamente. O que ele fez foi embaralhar as peças mentalmente e redistribui-las nas superfícies de suas pinturas, criando novas narrativas e seres imaginários. Gêmeas, crianças, guerreiros, coelhos e cavalos escapam, assim, de seus habitats naturais (telas impressionistas ou estatuária do Egito antigo) para encontrar-se nas composições de Berliner.

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FANTASMAS
Obra realizada com água sanitária sobre veludo

Um dos pontos de partida da pesquisa de Berliner foi a tapeçaria “Meninos pescando”, de Giovanni Francesco Romanelli (1610-1622), que fica na parede em frente à cama da colecionadora, no quarto de dormir. Algumas das narrativas das pinturas do artista visitante foram compostas a partir da imagem dos peixes e do carangueijo que morde o dedo de uma criança, presentes nessa tapeçaria. Outros tecidos da casa chamaram sua atenção. Especialmente os veludos gastos dos forramentos de móveis e das molduras de quadros. A partir da observação de seu estado de deterioração pelo tempo e pelo uso durante noites a fio – a dona da casa era uma notívaga declarada –, Berliner desenvolveu uma técnica de desenho sobre veludo à base de água sanitária. O resultado são figuras fantasmagóricas, que parecem se despregar do tecido e ganhar uma vida invisível, que corre livre pelos cômodos da casa.

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PERSONAS
Pintura sobre painel de madeira, instalada no escritório

Fotos: Paula Alzugaray; Los’Carpinteros’studio 


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