Conhecido por abrigar uma heterogênea federação de caciques regionais, o PMDB havia conseguido este ano algo inimaginável para os padrões do partido. No início do semestre, construiu uma unidade em torno do desembarque do governo. Estabeleceu até data para abandonar a nau governista. O dia “D” seria o Congresso do partido marcado para o dia 17 de novembro. Três fatos, porém, desnortearam a legenda nas últimas semanas: a decisão do TSE de tocar adiante a ação eleitoral que pode impugnar a chapa de Dilma e Temer, as denúncias envolvendo o presidente do Senado, Renan Calheiros, na Lava Jato, e os novos pedidos de abertura de inquérito contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Agora, o PMDB avalia transformar o seu Congresso num mero encontro de comadres – ou seja, um convescote sem a ambição de produzir decisão alguma sobre o futuro do partido.

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COM QUE ROUPA?
Atraído novamente pelas benesses do poder, PMDB volta a se
dividir em relação com rompimento com o governo Dilma

Na terça-feira 20, o vice-presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), chegou a anunciar o adiamento do encontro de novembro para março de 2016. Em seu lugar, aconteceria apenas um inofensivo seminário da Fundação Ulysses Guimarães. Raupp atribuiu a decisão a dificuldades logísticas para organizar o evento, cuja expectativa é de reunir cinco mil correligionários. “Não vai ter mais este ano. Não está fácil organizar o evento, até porque tem de juntar muita gente”, despistou o vice-presidente do partido. Convertido a governista, depois de acomodar apadrinhados políticos no novo Ministério de Dilma, o líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani, soltou fogos, ao tomar conhecimento do adiamento. “Acho que foi uma decisão acertada”, comemorou.

Na verdade, a decisão da ala peemedebista mais próxima de Dilma de postergar o encontro embutia outros temores bem menos triviais: o de que a maioria das correntes internas aproveitasse a oportunidade para aprovar uma moção a favor do rompimento definitivo com o Planalto e isso incensasse as manifestações de rua contra o governo marcadas para a mesma data do Congresso do partido. Para evitar melar o jogo acertado lá atrás, os peemedebistas favoráveis ao divórcio com Dilma reagiram. Na última semana, pelo menos três reuniões ocorreram em menos de 48 horas na tentativa de manter a data inicial do evento. Comandou a reação o deputado Geddel Vieira Lima (PMDB-BA), hoje um dos críticos mais ácidos ao governo. “Não tem hoje no partido ninguém com autoridade política para tomar uma decisão dessas”, afirmou. Um dos alvos do presidente do diretório da Bahia foi o ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves. “O Henrique trabalha contra porque quer transformar o PMDB numa agência de emprego público”, ironizou Geddel. “Desejam que o PMDB garanta a sinecura para quem desaprendeu a fazer política fora do governo. Não sabem mais o que é militância. E não querem que o partido debata os problemas do Brasil real, que estão aí, diante dos olhos de todos”, acrescentou o político baiano.

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Ao encontrar as digitais do vice-presidente, Michel Temer, na decisão pelo adiamento, Geddel foi ao encontro do dileto aliado de outrora. Na conversa com o vice-presidente, o parlamentar do PMDB não baixou a guarda. “É inaceitável que o PMDB queira passar a imagem de que é dirigido por uma cúpula congressual que não corresponde à vontade do partido”, disse. Temer teria se comprometido a não agir para inviabilizar o Congresso, caso a maioria assim o quisesse.

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Cerram fileiras como já é público e notório o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ) e o deputado Jarbas Vasconcelos (PE). Nos últimos dias, uniram-se a eles diretórios como os do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grossso do Sul. Na sexta-feira 23, a manobra havia sido desfeita. O Congresso foi confirmado. Mas o desnorteado PMDB, capitaneado pela ala governista, planeja pregar outra peça nos próprios colegas de sigla. A ideia agora é tirar musculatura política do encontro, esvaziando-o. Até lá, novas batalhas deverão ser travadas entre as correntes historicamente antagônicas do partido. A propalada unidade, do início de agosto, ruiu com um castelo de cartas.

Foto: Renato Costa/FramePhoto/Folhapress) 


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