Há 15 dias, quando decidiu lotear cargos na reforma ministerial, a presidente Dilma Rousseff calculou que, com a iniciativa, seria capaz de atrair a fidelidade do PMDB no Congresso. Na semana passada, porém, o fisiologismo se converteu em uma grande furada. Em dois dias consecutivos, os deputados não compareceram à sessão que votaria os vetos da presidente à chamada pauta-bomba, que anula o corte de gastos que o governo anunciou como parte do pacote de ajuste fiscal de R$ 26 bilhões. A falta de quórum não só significou uma derrota contundente para Dilma como expôs uma enorme incapacidade de articulação. Dos 65 deputados do PMDB, 28 não foram. A ausência também representou uma derrota pessoal para Leonardo Picciani, o líder do PMDB na Câmara. Na quarta-feira 7, Picciani ficou pendurado ao telefone fazendo apelos para que deputados do partido aparecessem. Não adiantou.

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AMBIÇÃO
Picciani quer suceder Eduardo Cunha na Presidência da Câmara

Aos 35 anos, Picciani, do Rio de Janeiro, representa o que o velho PMDB tem para oferecer de novo no cenário nacional. É um político jovem. Fora a pouca idade, quase nada traz de novidade em relação às práticas de seu partido. Tanto que, recentemente, mostrou que não vê problemas em mudar de lado no espectro político conforme a conveniência. Após apoiar a candidatura do tucano Aécio Neves em 2014 e começar o ano com uma postura dura em relação ao governo, aderiu ao time de Dilma Rousseff no Congresso. Agora, é o preferido da administração petista para assumir a Presidência da Câmara caso o atual ocupante do cargo, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deixe a função pelo envolvimento em escândalos de corrupção.

Picciani se tornou líder da bancada peemedebista graças ao apoio de Cunha. Agora, torce para que o ex-aliado caia em desgraça e abra caminho para a sucessão. Em público, os dois negam estar com relações estremecidas. Nos bastidores, ficou evidente que Cunha trabalha para enfraquecer Picciani. Na semana passada, o presidente da Câmara patrocinou a dissolução do mega-bloco de seis partidos (PMDB, PP, PTB, PHS, PSC e PEN) liderado por Picciani, numa tentativa de diminuir o poder do colega e a pretensão do governo de plantá-lo na Presidência da Casa. Em entrevista à IstoÉ, Picciani negou estar trabalhando pela Presidência da Casa. “Eu não trato dessa questão”, diz. “Ela não está no meu horizonte.”

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FRACASSO
Falta de quórum escancarou a incapacidade de articulação de Dilma

A aproximação de Picciani com a administração petista incomoda integrantes de sua própria legenda. “É uma aventura inútil”, afirma o deputado federal Osmar Terra (PMDB-RS). “Não vai resolver o problema do governo e queima o partido. Pode ser útil para alguém, mas para o partido não é.” Desde o ano passado, a bancada do PMDB mantinha uma posição neutra em relação ao governo. Sempre aliado de Eduardo Cunha, Picciani deu várias demonstrações de contrariedade ao governo. O que motivou a mudança de comportamento? “A proximidade maior com o governo se deu a partir do momento em que fui chamado para conversar”, diz. “Sempre estive aberto ao diálogo.”
A disposição do governo de apoiar Picciani para substituir Cunha caso ele saia da Presidência da Câmara esbarra no próprio PT, partido de Dilma. Um grupo de deputados formado por Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Marco Maia (PT-RS) não desistiu de voltar a ter o presidente da Casa para a própria legenda. Os petistas mais alinhados com o governo avaliam que o ideal é apoiar alguém do PMDB e, aos poucos, tentar retomar os cargos de comando na Casa – hoje, o PT não tem assento na Mesa Diretora. “O Picciani foi determinante na reforma ministerial”, afirma o líder do PT, Sibá Machado (AC), “Mas Presidência é outra história.”

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Fotos: Pedro Ladeira/Folhapress; Jorge William/Ag. O Globo 


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