O debate está vivo nas grandes cidades: como melhorar a mobilidade urbana? O modelo ideal é oferecer diferentes e complementares meios de transporte, que possam ajudar o cidadão a fazer a melhor combinação entre eles, em cada momento do dia. Para eliminar os congestionamentos, por exemplo, acabar com os automóveis ou construir mais ruas para suportar o crescente número de veículos – a cidade de São Paulo detém uma frota de oito milhões de carros e o crescimento segue acelerado, com uma média de 500 novos veículos ao dia – não é suficiente. O segredo também não está na expansão de mais linhas de metrô, corredores de ônibus, avenidas e ciclovias. Fazer uma combinação justa, inteligente e eficiente entre todos é o melhor caminho para melhorar a circulação de uma metrópole. E o carro, considerado o principal responsável pela baixa qualidade de vida urbana, não se transforma no único vilão.

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CABEÇAS CRIATIVAS:
a Fiat lançou o desafio de criar um carro conceito de forma colaborativa e
recebeu sugestões de mais de 17 mil pessoas, de 160 países

A Fiat Chrysler, montadora que mais colocou carros nas ruas brasileiras nas últimas décadas, está no comando de um projeto inovador para mostrar que a mobilidade urbana não precisa estar ligada ao combate do automóvel. O projeto “O Futuro das Cidades” procura conhecer os locais onde os produtos estão inseridos, mapear os problemas e contribuir com o desenvolvimento de soluções. Nascido do legado do Fiat Mio, projeto de criação colaborativa que resultou em um carro-conceito exibido no Salão do Automóvel de São Paulo, em 2010, “O Futuro das Cidades” é coordenado pelo designer Mateus Silveira, que conta com um rico material da experiência do Fiat Mio: o engajamento de mais de 17 mil pessoas, de cerca de 160 países, que enviaram ideias sobre propulsão, materiais, segurança, ergonomia, design, dentre outras soluções tecnológicas e de mobilidade urbana. “O carro particular tem vantagens e não podemos ignorá-lo. No futuro das cidades, acreditamos no resgate do conceito de que o carro assume cada vez mais o papel de veículo de passeio, para o qual foi inicialmente projetado”, diz Silveira. “Cabe à indústria automotiva o desenvolvimento e a produção de veículos mais adequados, seguros e conectados.”

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PASSEIO DIVIDIDO:
‘A Fiat quer participar da luta por cidades melhores’, diz o designer Mateus Silveira.
Ao lado, um carro usado para o compartilhamento na Itália

Entre as possíveis soluções sobre a mesa estão as caronas solidárias, os regimes de horário flexível, a adoção do home office, os aplicativos de trânsito (como o Waze) e as entregas noturnas. Algumas já começam a ser adotadas em grandes cidades brasileiras, mas outras precisam ser estimuladas e aprimoradas. Umas das opções mais aceitas mundialmente – inclusive pela Fiat Itália – é o carsharing, ou compartilhamento de carros. Nesse modelo, o veículo, embora usado por uma pessoa de cada vez, é coletivo. Uma série de carros, muitas vezes elétricos, são usados por diferentes motoristas, que pagam pelo tempo de locação. O melhor é que os carros podem ser retirados em um local (perto de casa ou de uma estação de trem ou metrô) e devolvidos em outra região. Algumas cidades, para incentivar esse tipo de transporte, reservam vagas exclusivas – como as para bicicletas existentes na cidade de São Paulo. Estudo da consultoria Frost and Sullivan mostra que o número de usuários desse modelo cresceu 1.300% de 2006 a 2014 em todo o mundo, com quase 100 mil carros à disposição (veja quadro). No Brasil, há iniciativas nas capitais de São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Pernambuco. “A Fiat Chrysler quer participar da luta por cidades melhores para se viver, não apenas como fabricante de veículos, mas como uma indústria da mobilidade”, diz Silveira. “Queremos utilizar as habilidades, competências e recursos que temos disponíveis, além do know-how de produtos e soluções de grande escala em prol do bem-estar urbano.”

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O objetivo do projeto “O Futuro das Cidades” é fazer o grande público entender que o trânsito faz parte do “sistema circulatório” de uma cidade. As pessoas precisam se mover para garantir a efervescência de oportunidades que faz uma metrópole prosperar. O problema é quando essa circulação congestiona os caminhos, impedindo o acesso às oportunidades. Na medida certa, o trânsito é essencial. “Leonardo da Vinci dizia que as cidades são organismos vivos em que pessoas e bens materiais precisam circular para manter a saúde urbana”, diz Silveira. Mas a cultura brasileira de adoração do automóvel não seria um obstáculo? Pesquisa da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva, que ouviu estudantes para entender a relação deles com os carros, mostrou que, se antes ter um veículo estava atrelado à liberdade e status, hoje as prioridades são tecnologia e eficiência energética. A conclusão é de que há disposição, por parte da nova geração, para repensar a mobilidade. E isso é essencial para as montadoras.

Fotos: ALDO_FERRERO, Adeildo Silva 


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