Diariamente, mais de mil caminhões carregados de soja, farelo de soja e milho participam de uma organizada procissão que começa nas grandes fazendas do norte do Mato Grosso e se dirige para Rondonópolis, no sul do Estado. Lá, quase 52 mil toneladas desses produtos são rapidamente descarregadas em vagões que, puxados pela força das locomotivas, viajam mais de 1,4 mil quilômetros até o Porto de Santos, em São Paulo, onde são embarcadas para ser distribuídas para o mundo. Esse trajeto no Brasil, que hoje tem cerca de cinco dias de duração, só é possível graças à iniciativa da empresa Rumo ALL de construir o Complexo Intermodal de Rondonópolis, o maior da América Latina. Vista de cima, a estrutura lembra uma pêra, formada por armazéns, silos e um terminal ferroviário. A instalação, que ocupa área equivalente à de 900 campos de futebol, foi inaugurada em setembro de 2013 e demandou investimentos de R$ 880 milhões, que incluíram também a expansão de 260 quilômetros da malha ferroviária da empresa na região.

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VAGÕES DA ECONOMIA:
frete mais barato é um dos atrativos para a ampliação das ferrovias,
como a que liga o Mato Grosso ao Porto de Santos

Crucial na logística do maior corredor de exportação de grãos do País, o terminal da Rumo ALL é exceção. O Brasil ainda é altamente dependente das rodovias. Calcula-se que quase 60% de toda carga transportada no País viaje por caminhões. As ferrovias foram abandonadas pelo poder público nas últimas décadas, o que aumenta o custo das empresas. Se houvesse mais trens em circulação, calcula-se uma economia de R$ 7 bilhões em frete, por ano. Isso porque o transporte ferroviário é cerca de 30% mais barato do que o rodoviário. Além disso, a carga embarcada nos vagões é, normalmente, sinônimo de entrega dentro do prazo. “Os fazendeiros podem ter a certeza de que o produto chegará a Santos e que não ficará à mercê de greves de motoristas”, diz Fabricio Degani, diretor de portos e terminais da Rumo ALL. “A ideia sempre foi nos aproximarmos mais da nova fronteira agrícola e conectar os produtores do Centro-Oeste ao Porto de Santos.”

A crise econômica, que está provocando o recuo do Produto Interno Bruto (PIB), não afeta as operações do terminal de Rondonópolis. A soja no Mato Grosso bateu outro recorde, com 28 milhões de toneladas produzidas, neste ano. Com as operações a todo vapor, a Rumo ALL busca tornar os processos de embarque e transporte ainda mais eficientes. Um sistema de agendamento garante que a chegada das carretas ocorra de forma cadenciada, evitando, assim, congestionamentos nas rodovias e as longas filas de espera à espera da descarga.

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Sem os gargalos no desembarque da carga no terminal, evita-se problemas na ferrovia e no Porto de Santos, uma eficiência que garante a pontualidade. No terminal, sete tombadores – plataformas que “inclinam” os caminhões em cerca de 40º para despejar os grãos nos vagões – operam simultaneamente para garantir a agilidade na passagem dos grãos. E os silos têm capacidade de armazenagem de até 60 mil toneladas. “O fato de haver um terminal ferroviário na região é ainda mais importante neste momento de encarecimento dos fretes rodoviários”, diz Degani. “Vamos trabalhar ainda mais para melhorar processos e controles para gerar eficiência e aumentar a capacidade.”

Num País com tantos gargalos para o escoamento da produção agropecuária – estradas deficientes, portos sobrecarregados e a quase ausência de hidrovias –, a operação de uma ferrovia que liga o Mato Grosso diretamente ao maior porto brasileiro é um alívio logístico. O benefício do Completo Intermodal da Rumo ALL não se limita apenas aos produtores. É preciso contabilizar o desenvolvimento da região e a criação de empregos. No ano passado, foram 500 vagas diretas de emprego. A expectativa é de que, nos próximos anos, com a instalação de outras empresas no complexo, o número chegue a 3 mil (o condomínio tem capacidade para receber até 30 empresas).

Essa elevação no emprego deve dobrar o PIB de R$ 5,9 bilhões do município e impactar uma cadeia que começa nas fazendas do norte do Estado e chega até os pequenos comerciantes da área. Além disso, desde a fusão da Rumo Logística, do grupo Cosan, com a América Latina Logística (ALL), aprovada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em fevereiro deste ano, a empresa tem investido na contratação de funcionários, que antes eram terceirizados.

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Fotos: Celso Doni, Marcos Corazza / AG. ISTOÉ