O livro “Fidel e a Religião – Conversas com Frei Betto”, presenteado por Fidel Castro ao papa Francisco em sua visita a Cuba, será relançado pela Companhia das Letras. A obra, escrita há 30 anos e que ajudou a reconciliar Cuba com a religião católica, foi editada no Brasil pela Brasiliense, na época, e está esgotada há quase 20 anos. Em Cuba durante a visita de Francisco, Frei Betto recebeu do próprio Fidel a notícia de que o livro seria dado ao papa, como sua lembrança ao pontífice. Na segunda-feira 12, o escritor e frade dominicano volta à ilha para receber o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Havana, na cátedra de filosofia. A universidade foi fundada em 1728 pelos dominicanos, ordem a que Frei Betto pertence.

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IstoÉ – Como o sr. reagiu ao saber que seu livro foi presenteado por Fidel ao papa?
Frei Betto –
Fiquei muito feliz e lisonjeado. Eu estava em Cuba. Na véspera de seu encontro com o papa, Fidel me telefonou desculpando-se por não poder me ver naquela ocasião e contou o que daria ao papa de presente: “Vou dar o nosso livro”, ele falou. “Nos vemos antes de você partir”. Acabei indo embora antes e não o encontrei dessa vez. Foi uma emoção, pois a gente fez esse livro há 30 anos. É uma longa entrevista com Fidel sobre sua relação com a religião, suas histórias de família. Ajudou a reconciliar Cuba com a religião católica depois da revolução cubana. Digo isso porque com as outras religiões a relação sempre foi boa. É o livro mais vendido na história de Cuba: 1 milhão e 300 mil exemplares.

IstoÉ – No Brasil o livro está esgotado há mais de uma década.
Frei Betto –
A Companhia das Letras vai relançá-lo. Por causa da viagem a Cuba, me atrasei para entregar a longa revisão que fiz. Terá um novo prólogo e uma apresentação. Também fiz novas notas de rodapé. Suponho que o leitor mais jovem não saque algumas coisas. Tem gente que não sabe o que foi a invasão da Baía dos Porcos (tentativa frustrada de invasão ao sul da ilha, em 1961, por um grupo paramilitar anticastrista, com apoio norte-americano).

IstoÉ – o sr. acredita que a passagem do papa por Cuba antes de partir para os Estados Unidos vai acelerar o fim do embargo?
Frei Betto –
A visita dele foi a mais positiva para Cuba. Ele foi fundamental nessa reaproximação com os Estados Unidos. Quando se despediu do papa, Raul Castro disse: “Não posso beijar sua mão (deferência apenas dos católicos), mas o trarei sempre no coração”. E o papa respondeu: “Eu também.” Seguramente na conversa privada com Obama, o papa pediu pelo fim do embargo. Mas isso sabemos que depende do Congresso americano.

Fotos: ALEX CASTRO/ WWW.CUBADEBATE.CU/ AFP PHOTO 

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