Nos últimos anos, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) desencadeou uma profunda transformação na economia brasileira. O ingresso de centenas de empresas no mercado acionário trouxe uma avalanche de recursos e permitiu que as companhias de capital aberto despejassem bilhões de reais em investimentos. O sucesso da Bolsa melhorou as próprias corporações, na medida em que as obrigou a prestar contas a milhares de sócios anônimos, os investidores. Estes foram remunerados de acordo o valor das ações, que durante muito tempo ganharam fácil de diversas outras aplicações. A onda de IPOs, como são chamados os processos de abertura de capital, foi um verdadeiro choque de capitalismo no País, mas tudo o que foi conquistado há pelo menos uma década pode estar se perdendo. As lambanças da política econômica da presidente Dilma Rousseff culminaram na mais grave crise financeira desde a era Collor e chegaram com força à Bovespa.

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Desde 2014, treze empresas fecharam o capital e apenas duas abriram, no movimento inverso do que acontecia tempos atrás. Mais preocupante ainda: a capitalização das empresas abertas brasileiros registrou o maior recuo entre os 20 maiores mercados acionários do mundo (confira quadro). Juntas, as 359 empresas negociadas na Bolsa de São Paulo valem atualmente pouco mais de US$ 500 bilhões. Em 2007, as 63 companhias listadas na Bovespa somavam US$ 1,4 trilhão. Sob qualquer ângulo que se analise esses dados, trata-se de um resultado desastroso. Em 8 anos, o total de corporações aumentou mais de seis vezes, mas o valor do capital disponível na Bolsa caiu um terço. Hoje em dia, os recursos da Bolsa brasileira representam 0,86% da capitalização global de US$ 60,59 trilhões. Um ano atrás, a participação nacional correspondia a 1,72%.  Ter um mercado acionário fraco é um impeditivo sério para o desenvolvimento econômico. Para a maioria dos especialistas, não há no cenário próximo perspectivas positivas. “Nos últimos dois anos, manter o capital aberto não tem sido o melhor negócio para muitas empresas”, diz  o analista independente Clodir Vieira. “O Brasil perdeu o grau de investimento e a credibilidade baixa do governo assusta investidores.”

O rebaixamento da nota de crédito do Brasil pela Standard & Poor´s tornou o cenário mais nebuloso. Segundo Edemir Pinto, presidente da BM&FBovespa, a perda do grau de investimento afasta a possibilidade de o País atrair investidores de longo prazo, como os grandes fundos de pensão globais. Sem esse dinheiro, novos IPOs ficam ainda mais distantes. Em entrevista recente, Edemir foi direto quando perguntado sobre o mercado acionário brasileiro. “O preço das empresas já está na bacia das almas”, afirma o executivo. Mesmo que uma lenta recuperação comece a partir do ano que vem, vai demorar um bom tempo para o preço das ações alcançar o patamar de, pelo menos, dois anos atrás. O exemplo máximo do encolhimento brutal das empresas brasileiras é a Petrobras. Desde 2010, o valor de mercado da estatal despencou mais de 80%, o que representa uma destruição de impressionantes US$ 163 bilhões.

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FUNDO DO POÇO
Para Edemir Pinto, presidente da Bovespa, ‘o preço das
ações já está na bacia das almas’

Na semana passada, uma nova leva de indicadores econômicos negativos enervou o mercado e colocou ainda mais pressão sobre a presidente Dilma. O desemprego disparou, a inflação não para de subir, o consumo está em queda livre. Na terça-feira 29, o Fórum Econômico Mundial divulgou o novo ranking de competitividade dos países. O Brasil teve o pior desempenho entre as 140 nações incluídas na listagem. Caiu 18 posições – o segundo que mais recuou no ranking foi a Bolívia, que perdeu 12 posições –, chegando à 75ª colocação. Detalhe: o Brasil está atrás de países pobres como Índia e Vietnã e da maioria de seus vizinhos, como Peru, Uruguai e Colômbia. O mercado acionário frágil é um dos fatores que contribuíram para a perda de competitividade da economia brasileira. O pior é que a situação está muito longe de melhorar.

Foto: Ana Paula Paiva