Quem visita Nova York pode ver de perto a constante transformação da paisagem da metrópole, onde arranha-céus surgem na velocidade dos investimentos bilionários que ela atrai. Entre tantos prédios modernos e envidraçados, uma construção histórica, no entanto, repousa solenemente numa das esquinas mais caras da cidade, na junção da Rua 72 com a Avenida Central Park West. Ali, há exatos 131 anos, foi erguido o edifício Dakota, um dos primeiros prédios residenciais de luxo do mundo. Apesar de centenário, ele continua um dos endereços mais cobiçados da cidade e sua história se confunde com a da própria Nova York. É isso o que revela o novo livro “The Dakota: A History of the World’s Best-Known Apartment Building” (“O Dakota: A História de um dos Prédios Residenciais Mais Conhecidos do Mundo”), do historiador americano Andrew Alpern, com lançamento previsto para 13 de outubro.

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Por muitos anos, a construção do Dakota foi considerada uma empreitada improvável. O local onde hoje está o edifício, à beira da face oeste do Central Park, era praticamente uma área rural em 1880, ano em que teve início a sua edificação. A região era muito afastada do centro financeiro e social da cidade, na época ao sul de Manhattan, e não contava com transporte adequado. Além disso, construir um prédio residencial de luxo era uma ideia inovadora para a época. Até então, morar em apartamentos era condição apenas das classes mais baixas – os ricos viviam em suntuosas casas. Convencer os nova-iorquinos endinheirados a se mudarem para um endereço tão distante, ainda mais um prédio, seria um desafio, mas a opulência do Dakota falou mais alto. Com pé direito alto, paredes revestidas em mogno e chão de mármore, o edifício logo conquistou moradores abastados. Mas, apesar da riqueza do lugar, os aluguéis eram modestos, o que tornava possível a convivência de residentes ricos com artistas e outros tipos alternativos.

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ÍCONE
Foto do final do séc. XIX mostra pista de patinação
no Central Park com o Dakota ao fundo

A predileção de atores e músicos pelo Dakota, aliás, marcou a história do imóvel. Nos anos 1950, o ator Boris Karloff (1887-1969) foi um dos primeiros moradores ilustres do local. Em 1960, Judy Garland (1922-1969) e Lauren Bacall (1924-2014) se mudaram para lá. Na mesma década, a fachada do edifício foi usada no clássico de terror “O Bebê de Rosemary” (1968). Nos anos 1970, o casal John Lennon (1940-1980) e Yoko Ono viveu no local por sete anos, até Lennon ser morto a tiros na frente do prédio por um fã. A tragédia tornou a construção mundialmente famosa e também fez dela um ponto turístico para curiosos e fãs do ex-Beatle, o que só impulsionou o valor dos apartamentos. Em julho, a antiga residência de Bacall, com nove cômodos, foi vendida por US$ 23,5 milhões (R$ 94 milhões). Já o apartamento mais barato, com dois quartos e dois banheiros, é avaliado atualmente em US$ 3,6 mi (R$ 14 mi).

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Por sua aura de glamour e tradição, o Dakota também atraiu candidatos a moradores famosos, mas menos desejados. Reza a lenda que Madonna, Cher e Antonio Banderas teriam sido rejeitados pelo conselho atual de administradores do prédio. Para o autor de “The Dakota”, o caráter único do edifício é o que faz dele tão importante para a história de Nova York. “Eu conheço o Dakota desde a minha infância, pois morava no bairro, e sempre fui fascinado pelo fato dele ser completamente diferente dos outros prédios residenciais de NY”, disse Alpern à ISTOÉ. Enquanto a cidade crescia em torno do edifício, o Dakota se consolidou como um dos mais originais, do ponto de vista arquitetônico, e exclusivos prédios do mundo. Sua localização extraordinária, sua vista para o Central Park e seu luxo fazem dele um marco que deve perdurar pelas gerações futuras. 


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