O paralelo 13 compreende uma das mais importantes regiões de biodiversidade do planeta. Nos estados de Goiás, Mato Grosso e Tocantins, ele cruza a Amazônia Legal, uma fronteira entre a floresta e o setor produtivo. Durante décadas, a exploração ilimitada de garimpeiros e do agronegócio empobreceram o solo e invadiram um espaço que deveria permanecer intocável. Mudar essa realidade exige um trabalho de formiguinha, como o que o Instituto Centro de Vida (ICV), uma organização social que busca encontrar soluções sustentáveis para conciliar a agropecuária com a recuperação e preservação do ecossistema mato-grossense, tem realizado há quase 25 anos.

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COMIDA FARTA:
o trabalho do instituto ICV, com apoio do JBS, mostrou aos pecuaristas de Mato
Grosso a importância da rotatividade do pasto na criação de bovinos

Um de seus mais bem-sucedidos projetos teve início há três anos em Alta Floresta, município no extremo norte do Mato Grosso. Com cerca de 840 mil cabeças de gado, a cidade constava na lista das áreas mais críticas do Brasil divulgada pelo Ministério da Agricultura. O ICV decidiu interferir nessa realidade e escolheu seis fazendas pecuaristas para receber lições de sustentabilidade e técnicas de preservação e manejo da produção. Como em outras regiões do País, a pecuária é a que está mais atrasada no processo de melhoraria da produtividade. Com aproximadamente 209 milhões de bovinos de corte, o Brasil detém o maior rebanho comercial do mundo. No entanto, a eficiência deixa a desejar. Os Estados Unidos conseguem ser quatro vezes mais eficientes com metade do rebanho brasileiro. Para reduzir essa distância, o ICV apresentou técnicas simples para essas seis fazendas, como a troca da pastagem morta pelo uso rotativo do solo, a tecnologia para reduzir o impacto sobre os recursos naturais, as maneiras de aumentar a produtividade com o semiconfinamento e a suplementação à alimentação e como seguir o Código Florestal. Os objetivos foram alcançados, com a redução da exploração do bioma amazônico e a criação de gados mais atrativos para o abate. “Mas não adianta ter um produto de qualidade da porteira para dentro se não tem um frigorífico que reconheça essa qualidade e consiga colocá-lo no mercado”, diz Francisco Beduschi Neto, analista de política e economia do ICV. “A cadeia como um todo precisa funcionar junto.”

Essa cadeia encontrou a sua ligação com o JBS, a maior empresa privada brasileira, que passou a ser parte fundamental no projeto. Ao conhecer a tentativa de criação de “boi verdes” e sustentáveis, que não prejudicam a Amazônia, nesse importante pólo agropecuário do Mato Grosso, a empresa abraçou as seis fazendas escolhidas pelo ICV. Mais que um comprador, o JBS tem buscado transformar a mentalidade desses fazendeiros. A intenção é fazer com que eles acreditem ser produtores de carne e não criadores de boi. Para atingir esse objetivo, os responsáveis acompanharam todo o processo de abate técnico: da saída dos bois de suas fazendas para a fábrica do JBS em Colider até a produção final, com a carne embalada para a distribuição no varejo. Durante esse processo, eles enxergaram pela primeira vez as características das carcaças produzidas por eles e entenderam por que o frigorífico exige um alto nível de qualidade, com animal jovem, pesado e gordo com equilíbrio entre carne, osso e gordura. “O JBS retribui esses produtores com uma bonificação e um valor adicional para a arroba da carne”, diz Márcio Nappo, diretor de sustentabilidade Brasil do JBS. “O tripé da sustentabilidade está na preservação da floresta, no uso da tecnologia e no aumento de renda.”

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Os resultados mostram que o projeto do ICV com apoio do JBS traz retorno econômico para os produtores. Considerando todos os avanços conseguidos por eles, a margem bruta dessas seis fazendas é quase sete vezes maior que a dos produtores de Alta Floresta, com um custo 30% menor após a adoção de novas tecnologias. A produtividade também fez diferença, com pouco mais de três vezes para essas fazendas em comparação à da região. A fazenda São Mateus, por exemplo, conseguiu reduzir de 35 a 40 meses para 25 meses o tempo de engorda de sua criação, o que resulta num ganho de um ano com maior valor agregado. “Quando esse processo dá certo, cria-se um ciclo virtuoso para crescer, com mais técnica e alta produtividade”, afirma Nappo. 

Foto: marcoflavio.com