A economia circular prova que o fechamento de um ciclo nem sempre significa o fim de tudo. Esse sistema mostra que o reaproveitamento constante dentro de uma cadeia de valor evita que os materiais acabem enterrados. O mecanismo consiste em amarrar os elos e transformá-los numa espiral: uma embalagem de cereal, comprada na prateleira do supermercado, é recolhida e levada a uma cooperativa de reciclagem, que faz a triagem e separa o papel para enviá-lo aos fabricantes de cartão. De lá, as folhas seguem para as gráficas, onde são recortadas para virarem novas embalagens e receberem o logotipo de outros produtos. O circuito se fecha quando essa nova embalagem volta para as gôndolas. Com esse compromisso, o Grupo Pão de Açúcar (GPA) criou o programa “Novo de Novo”. Expansão do “Ciclo Verde Taeq”, que teve início em 2008 e produzia duas em cada dez embalagens de papelão dos produtos da marca própria da rede varejista controlada pelo francês Casino, a nova proposta é fazer esse circuito girar com mais precisão. Rebatizar um projeto vencedor parece desculpa quando se quer esconder um erro. No caso do GPA, foi o sucesso que exigiu a mudança. Além da Taeq, as outras marcas próprias do grupo, Qualitá e Finlandek, passam a fazer parte da iniciativa. Além de ampliar as marcas envolvidas, o Novo de Novo expande os tipos de material reaproveitados, incluindo embalagens plásticas e longa vida. “A intenção é chegar a dobrar esse índice, mantendo sempre a condição primordial de não onerar o produto”, afirma o gerente de embalagens Aparecido Borghi.

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SEU LIXO É BEM-VINDO:
a rede varejista criou dezenas de postos de coleta para
incentivar a reciclagem no consumidor

O ciclo se alimenta da matéria-prima coletada nos postos de entrega voluntária de material reciclável, existentes desde 2001 na rede. As Estações de Reciclagem estão presentes em mais de 260 lojas do Pão de Açúcar e do Extra. Todo material reunido nesses postos é doado para as cerca de 60 cooperativas cadastradas pelo GPA. Anualmente, são entregues 13,4 mil toneladas de papel, plástico, metal, vidro e óleo. Como incentivo ao projeto, os cooperados marcam presença ao lado das estações para explicar aos clientes dos supermercados sobre a importância da separação de resíduos. “É uma forma de educar o consumidor”, diz a gerente de sustentabilidade do grupo Laura Pires. “Faz toda a diferença para nossos parceiros. Eles sempre dizem que os resíduos das nossas estações são de melhor qualidade que a média e, portanto, mais rentáveis.”

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DEBULHAR O LIXO:
as cooperativas recebem todo material e
fazem a separação das embalagens

Com a coleta seletiva sendo organizada em vários municípios, o GPA terá de lidar com uma concorrência saudável. Aprovada no Congresso em 2010, depois de 21 anos em discussão, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) traz conceitos-base que já começam a pautar ações do governo, de empresas da sociedade, apesar da falta de definição para muitas normas. Como a da logística reversa e da responsabilidade compartilhada, que definem fornecedores, fabricantes, importadores, vendedores e consumidores como responsáveis pela destinação ambientalmente correta dos resíduos que geram. “Tanto no eixo ambiental como no social, os programas do GPA estão alinhados com a PNRS desde o início, por promover o envolvimento de catadores e cooperativas no manejo dos resíduos sólidos”, comenta Eduardo Gianini, gerente de marketing da Papirus, parceira do GPA desde a formatação do Ciclo Verde, há seis anos.
Pioneira em reciclagem de embalagem longa vida no Brasil, a Papirus expande seu trabalho com a nova versão do programa. Dessa vez, porém, ela não deve atuar sozinha na fabricação de papel cartão reciclado. “Não podemos exigir que nossos produtores comprem embalagens de uma única empresa, por isso precisamos diversificar”, diz Borghi, do GPA.

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Quando o Casino assumiu o controle do Grupo Pão de Açúcar, no início do segundo semestre de 2012, havia dúvidas se os programas de sustentabilidade seriam mantidos, principalmente por ser uma bandeira da família Diniz dentro do negócio. Os projetos foram mantidos, ampliados e expandidos. A gestão de sustentabilidade ganhou força e passou a responder para a vice-presidência de recursos humanos. Até o fim de 2013 ela estava sob o guarda-chuva da área de marketing.

Foto: MARIO CASTELLO