No princípio, era a música. Mas o Rock in Rio, festival que acontece na capital carioca até domingo 27, virou franquia, um negócio de escala intercontinental. Da primeira edição, em 1985, sobrou apenas a lama, que pode, inclusive, ser comprada como souvenir em pequenos frascos de acrílico por R$100,00 (leia o quadro na página ao lado). A lembrança é um entre os 643 produtos oficiais à venda com o logotipo do evento. Só o sortimento de artigos deve movimentar R$ 2 bilhões. Três décadas depois de colocar o Brasil na linha de frente do rock internacional, o festival autoproclamado o maior do planeta abre as portas do parque de diversões na zona oeste do Rio de Janeiro como um verdadeiro império de licenciamento de marca.

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SÓ EM 2015
Acima, a Cidade do Rock durante os testes de iluminação e fogos de artifício,
na semana passada, Rihanna e Sam Smith (abaixo) tiveram os ingressos
para os seus shows esgotados na primeira hora de venda

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Na primeira edição, inimagináveis 1,4 milhão de pessoas foram à Cidade do Rock, para ver bandas lendárias em seu auge, como Queen (estrela do primeiro dia desta edição, com novo vocalista), Iron Maiden, Ozzy Osbourne e AC/CD. Hoje, os 600 mil visitantes (85 mil por dia) desfrutarão de atrativos outros, como uma roda-gigante, uma montanha-russa, um quarto mal-assombrado com projeção de filme de terror e uma capela onde sete casais irão oficializar suas uniões durante o festival.

O preço dos ingressos subiu. Os organizadores abriram mão de R$ 12 milhões captados pela Lei Rouanet para poder subir o valor das entradas: R$350 a inteira e R$175 a meia. Para manter o apoio do Ministério da Cultura, eles não poderiam cobrar mais de R$260. Como muitos ingressos foram vendidos ao preço maior, a denúncia da quebra de contrato com a Rouanet obrigou-os a devolver para o erário público R$ 4 milhões. A justificativa do preço foi a alta do dólar, já que a grande maioria dos cachês é paga na moeda estrangeira. O investimento da empresa de Medina apenas na marca ultrapassou US$ 495 milhões.

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SÓ EM 1985
O show do Queen na primeira edição foi um dos maiores fenômenos de
público até então. A banda volta para a edição comemorativa, apesar
de ter perdido e seu líder, Freddie Mercury, morto em 1991

O Rock in Rio fatura antes mesmo de anunciar uma banda sequer: 100 mil pessoas compraram “no escuro”, durante a pré-venda desta edição, em novembro de 2014. Quando as bilheterias virtuais reabriram, em abril, os 85 mil ingressos para a noite do sábado 26, que tem entre as atrações a caribenha Rihanna e o britânico Sam Smith foram os primeiros a esgotar em menos de uma hora. O bem-sucedido modelo de gestão do evento aguça tanto a curiosidade que o grupo de Roberto Medina, o criador do evento, resolveu vender aulas também. Assim surgiu o Rock in Rio Academy, um curso de gestão de negócios onde os alunos passam um dia nas dependências do evento conhecendo o modelo gerencial. Entre as palestras, haverá a participação de músicos como Rogério Flausino, vocalista do Jota Quest. Mas sem cancha.

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Fotos: Divulgação