Nada deixa a paulista Gabriela Basílio mais feliz do que estar entre amigas. Com elas, convive na escola, vai ao inglês, joga handebol, troca segredos. Ao mesmo tempo, se existe algo que a deixa constrangida, são os carinhos dos pais na frente da turma. "Gosto que façam isso em casa. Senão, morro de vergonha." Gabriela não sai sem perfume e rímel. Agradece ao mercado por produzir marcas que lhe dão estilo ao se vestir. Já deu o primeiro beijo (acha que a mãe desconfia; o pai vai saber por esta reportagem). Baixa música todos os dias pela internet. Só compra CD se for de ídolos como Britney Spears. Viver sem celular? Jamais. "Entro em desespero quando não acho o meu", diz. Adora dançar nas matinês, das quais só sai depois das 22h. Está satisfeita com as curvas que ganhou no quadril. O tamanho dos seios não a incomoda, mas só porque não são maiores nem menores do que os das amigas. Gabriela é uma típica representante dos jovens de 13 anos da atualidade.

PRIVACIDADE
Para ter seu espaço, Luiz Guilherme prefere manter a porta do quarto fechada: "Às vezes, meus pais querem entrar, mas eles atrapalham"

Assim como os 18 anos representaram há duas gerações e os 15 anos há uma, os adolescentes de 13 anos dos anos 2000 simbolizam o início da travessia para a vida adulta. Uma idade marcada por uma atividade social intensa, um corpo em transformação, muitas dúvidas e euforia. A indicação etária que os elevou a esse patamar não simboliza maturidade emocional e física. Pelo contrário. Antecipadas a uma idade tão precoce, essas mudanças podem causar muita confusão em mentes e corpos bombardeados por hormônios responsáveis por uma infindável flutuação das emoções.

Esse começo da adolescência é considerado, ao mesmo tempo, a fase mais assustadora e a mais encantadora. As dúvidas surgem com as muitas e rápidas modificações corporais, geradoras de insegurança. É inesquecível, por ser o primeiro passo rumo à vida adulta cheia de conquistas, com a possibilidade de contestar tudo, repleta de promessas de liberdade irrestrita e de invulnerabilidade. Pelo menos é o que eles acreditam.

Os pais, por sua vez, ficam sem saber como agir e entender o filho que parece renegar a família. "Os 13 anos são marcados pelo desejo de não querer mais apenas seguir um comando", diz o hebiatra (médico de adolescentes) Paulo César Pinho Ribeiro, presidente do Departamento de Adolescência da Sociedade Brasileira de Pediatria. "Eles estão rompendo os domínios paternos, querem trocar experiências. Por isso, valorizam a opinião do grupo de pares."

Para compreender o que se passa nesse período, nada melhor que ouvir os próprios protagonistas. ISTOÉ aplicou uma enquete com 100 alunos de 13 anos em três escolas de São Paulo (SP), do Recife (PE) e de Curitiba (PR) (leia quadro). A pesquisa mostra, por exemplo, que 66% acham suficiente o envolvimento dos pais em seu cotidiano e 50% definem como excelente a relação que têm em casa. O relacionamento com os amigos ganha avaliação semelhante – é excelente para metade deles. Significa que a importância dessas duas vertentes em suas vidas têm o mesmo peso.

"Tenho muitos amigos", comemora o carioca Luiz Guilherme da Costa Neves, confirmando quanto os pares são fundamentais nessa época. Ele diz que a convivência com os pais é boa. Porém, sinaliza que deseja espaço. "Vira e mexe estou com a porta do quarto fechada", diz. "Às vezes, meus pais querem entrar, mas eles atrapalham." O pai, o advogado Luiz Octávio Miranda, 51 anos, entende o menino. "É natural ele querer mais privacidade. Não vejo isso como um problema", diz. Receber com tranquilidade as novas atitudes do filho faz de Miranda uma exceção.

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VIDA SOCIAL
Gabriela não sai de casa sem perfume e rímel, dança em matinês até as 22h e não vive sem celular "Entro em desespero quando não acho o meu"

A maioria não sabe lidar com garotos e garotas entrando na puberdade. "Eles pararam no tempo. Pensam que o bom da adolescência deles será bom para a dos filhos hoje", afirma o psiquiatra Içami Tiba, autor do best-seller "Adolescentes – Quem Ama Educa". O especialista diz que os adultos pecam por extremos. Há pais que prendem os filhos em casa, esquecendo que pela internet eles têm o mundo ao alcance – inclusive das drogas e da pornografia. Enquanto outros dão liberdade, mas não sabem exigir responsabilidade. Oferecem independência sem cortar os laços da dependência econômica e criam adultos que desistem diante dos primeiros contratempos, incapazes de se frustrar.

Na pesquisa de ISTOÉ, 84% dos jovens não consideram a virgindade essencial. "É até melhor conhecer o sexo antes do casamento", respondeu um deles. Não quer dizer que já mantenham relações sexuais, mas o assunto interessa – e muito. Seria mais uma descoberta normal da fase.

O problema está em crescerem numa cultura tão erotizada quanto a de hoje. Tanto a data da primeira menstruação quanto a da primeira ejaculação com esperma vêm caindo cerca de 0,6 ano a cada geração. Hoje, está em 12 anos. Há pesquisas que apontam esse contato precoce com a sexualidade como gatilho da aceleração fisiológica. "E, se as mudanças hormonais acontecem mais cedo, a libido também vai despertar antes", afirma o hebiatra Pinho Ribeiro.

De acordo com dados da Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde da Criança e da Mulher, do Ministério da Saúde, de 1996 a 2006 o percentual de mulheres que perderam a virgindade até os 15 anos saltou de 11% para 33%. Nessa mesma faixa etária, 47% dos meninos fizeram sexo. É verdade que no passado 13 anos já foi idade para casamento, mas a expectativa de vida também não passava de 45 anos. Era natural a iniciação sexual tão cedo. Não é a realidade do século XXI.

Só se envolve com sexo antes da hora, porém, quem estiver inseguro, tentando ser aceito na sociedade. "Os jovens dessa idade precisam de informação para entender tantas mudanças. E o mundo em que vivem não oferece isso", diz a ginecologista Albertina Duarte Takiuti, coordenadora do Programa do Adolescente da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo. O papel dos pais no processo de construção da autoestima é fundamental.

A relação de autoridade ainda funciona nessa fase. "Mas é preciso conquistar o respeito antes de impor regras", diz Paulo Al-Assal, da empresa de pesquisas Voltage. Pais que mostram aos filhos disposição em aprender com eles ganham pontos. Esperar passar momentos de raiva para conversar também pode surtir efeito melhor do que discutir depois de uma resposta atravessada, por exemplo. Por fim, é preciso não temer zelar pelos filhos, por mais que eles esperneiem dizendo que não são mais crianças. É assim que os adolescentes de 13 anos de hoje se tornarão adultos responsáveis, éticos, honestos. E com repertório próprio para construir sua felicidade.


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