Madrugada de 26 de julho. A Polícia Federal faz os últimos ajustes para deflagrar uma operação de busca e apreensão no Senado e encontrar documentos que possam comprovar suspeitas de fraudes em licitações. O diretor-geral do Senado, Agaciel Maia, um dos investigados, ficou sabendo da operação. Resultado: os agentes encontraram cofres vazios. A frustração pode ser explicada. ISTOÉ teve acesso a documentos que mostram que não era vã a preocupação em esvaziar os cofres. Os papéis, agora levados às mesas de procuradores e delegados federais, revelam um desfile de suspeitas pairando sobre concorrências públicas de valores milionários. Há até orçamentos falsos, atribuídos a multinacionais que garantem nem ter participado das licitações. No centro das denúncias está a direção-geral do Senado, comandada por Agaciel Maia. Os papéis foram entregues às autoridades por Adolfo Rodrigues Filho.

Há duas décadas no ramo de telecomunicações, Adolfo acusa o Senado de promover uma das maiores fraudes dos últimos tempos em Brasília. A história começa em 2003, quando o Senado comprou um contact center, central telefônica destinada a abrigar o serviço de atendimento eletrônico ao cidadão. “O Senado pagou um preço dez vezes maior do que o preço de mercado”, acusa Adolfo Rodrigues. “Um equipamento de contact center como o que eles compraram custa cerca de R$ 500 mil”, repete. O Senado pagou R$ 5,4 milhões.

O processo de compra do equipamento foi deflagrado em 19 de setembro de 2001. Surgiu a partir de um ofício encaminhado a Agaciel Maia pelo diretor de Comunicação Social do Senado, Carlos Setti. Segundo ele, o serviço dispunha de apenas cinco linhas telefônicas funcionando 12 horas por dias e duas caixas de mensagens com capacidade para armazenar até 100 mensagens. O atendimento era feito por 18 estagiários. Só que os números reais destoam da necessidade alegada por Setti e chancelada por Agaciel: ao longo de todo o ano de 2001, o Senado registrou 34.871 atendimentos. É o equivalente a uma ligação telefônica a cada 5 minutos e 27 segundos. Mesmo assim, o contact center acabou comprado sem licitação. Quem vendeu foi a empresa Damovo, representante no Brasil da multinacional Ericsson.

Ao fim do processo de compra, os responsáveis pelo negócio elaboraram um relatório segundo o qual 20 empresas foram contatadas para apresentar orçamentos. Apenas quatro delas teriam enviado resposta: Damovo, Siemens, NEC e Nortel. Segundo
o documento, a Damovo apresentou o menor preço inicial, de R$ 5,7 milhões, mas depois deu um desconto e o preço caiu para R$ 5,4 milhões. Ao receber a denúncia, o Ministério Público Federal procurou as empresas que teriam participado da concorrência. A NEC respondeu que não localizou nos seus registros e arquivos a tal “proposta” ao Senado para fornecimento de contact center. Na papelada juntada ao processo de compra, a NEC aparecia como autora de uma proposta de R$ 8,2 milhões. Uma segunda empresa, a Nortel Networks, que consta do processo com uma proposta de R$ 8,6 milhões, também informou ao MP que “não apresenta propostas nem faz vendas diretamente a seus clientes.” Adolfo dispara: “Inventaram essas propostas e colocaram lá para aumentar o valor que seria pago à empresa escolhida.”

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ISTOÉ procurou o diretor Agaciel. Ele indicou o secretário de Administração e Contratações do Senado, Dimitrios Hadjinicolaou. Ele negou as acusações mas não conseguiu apresentar documentos que comprovassem uma tomada de preços justa.


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