No dia 10 de julho, quando a festa de abertura dos Jogos Pan-Americanos de Toronto, no Canadá, teve início, as dependências do centro de treinamentos do Clube de Atletismo BM&FBovespa, em São Caetano do Sul, região metropolitana de São Paulo, estavam bem menos cheias do que o normal. Não que faltasse interesse de esportistas, treinadores e outros funcionários do local em assistir à competição. Longe disso. Acontece que, dos 88 corredores homens e mulheres que representarão o Brasil nessa modalidade, 29 eram do BM&FBovespa. O mais bem-sucedido clube de atletismo do País tem tudo para manter esse domínio na Olimpíada de 2016, no Rio de Janeiro, num claro exemplo de como o investimento privado de longo prazo pode ajudar a modificar o esporte nacional e, com ele, as vidas de centenas de pessoas.

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JOVEM PROMESSA:
Izabela Rodrigues da Silva foi descoberta no projeto social apoiado pelo clube da Bolsa

No plantel do BM&F Bovespa estão atletas já renomados, como a campeã mundial do salto com vara Fabiana Murer – que acaba de conquistar a medalha de prata no Mundial de Pequim, igualando a sua melhor marca da carreira (4,90 m) –, o bicampeão da maratona de Nova York Marílson Gomes dos Santos e a recordista sul-americana dos 100 metros rasos Ana Cláudia Lemos, que, apesar de ter se lesionado no Pan, é esperança de grandes resultados no ano que vem. Outro atleta consagrado é o bicampeão mundial indoor do salto em distância Mauro Vinícius “Duda” Coelho. Mas a equipe também é pródiga em revelar talentos, como o arremessador de peso Darlan Romani, que em maio obteve uma das dez melhores marcas do mundo e despontou como promessa para 2016. Todos os esportistas são contratados em regime CLT, têm suporte de equipes técnicas e médicas e estrutura de primeiro mundo no centro de treinamentos de São Caetano do Sul, inaugurado em 2012, que recebeu investimentos de R$ 20 milhões. “Era impossível imaginar uma estrutura assim no Brasil há alguns anos”, afirma o fundista Marílson.

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APOSTA DE OURO:
A velocista Ana Cláudia Lemos é recordista sul-americana dos 100m e 200m

Na estrutura da corporação, o clube está sob os cuidados da diretoria de sustentabilidade e do Instituto BM&F Bovespa, responsável por coordenar os projetos de investimento social da companhia. Por esse motivo, a verba destinada ao esporte não se limita ao alto rendimento. Três centros para categorias de base – em São Caetano, Campinas e na capital paulista – também recebem apoio da BM&F Bovespa. Nesses locais, que atendem centenas de crianças e adolescentes carentes diariamente, o foco sai do resultado esportivo e passa à cidadania, à educação e à transformação social. “Todas essas iniciativas acontecem em parceria com instituições locais porque, nessa etapa, é importante que os jovens mantenham o laço familiar”, explica Sonia Favaretto, diretora de sustentabilidade do BM&F Bovespa e superintendente do Instituto. Aqueles que demonstram maior potencial para o atletismo ainda recebem uma bolsa mensal, com valores que vão de R$ 250 a R$ 500, além de auxílios de custo para transporte e alimentação.

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A campeã mundial juvenil no lançamento de disco Izabela Rodrigues da Silva, 19 anos, é um exemplo de que esse investimento também é capaz de formar grandes atletas. Ela começou a treinar no Instituto Elisângela Maria Adriano, um dos núcleos de formação do clube de atletismo. Ao se destacar em jogos escolares, ela chamou a atenção dos treinadores da BM&FBovespa e passou a integrar a equipe no ano passado. As medalhas e troféus em grandes competições são resultado de apostas de longo prazo. “Talentos não surgem do nada”, diz o diretor-técnico do clube, Sergio Coutinho. “É preciso evitar um erro muito comum no atletismo brasileiro que é pular etapas.” As primeiras iniciativas da então BM&F de São Paulo na área aconteceram na década de 1980, com o Prêmio Ouro Olímpico, que premiou com barras de ouro os atletas vitoriosos na Olimpíada de Seul-1988. Em 1990, a bolsa fez uma parceria com a Federação Paulista de Atletismo para incentivar novos esportistas. Em 2000, o programa já contava com 25 atletas, entre eles nomes de peso como o medalhista de bronze na maratona da Olimpíada de Atenas, Vanderlei Cordeiro de Lima, e a campeã olímpica do salto em distância Maurren Maggi. A partir daí, a ideia era criar uma estrutura para permitir o desenvolvimento e aperfeiçoamento do atleta. O primeiro passo foi absorver a Funilense, agremiação de São Paulo que era protagonista no atletismo. O Clube BM&F – nome que mudaria para BM&F Bovespa em 2008, após a fusão com a Bolsa de Valores de São Paulo, a Bovespa – começou a competir em 2002. Atualmente, a Bolsa investe cerca de R$ 6 milhões por ano no atletismo. Outros R$ 4 milhões vêm de parceiros e patrocinadores. Assim, ela espera poder medir resultados não só em medalhas mas na formação de cidadãos.

Foto: Pedro Dias, Agência Luz