Depois de 15 anos dedicados à comédia, Marcos Veras estreia como vilão no cinema. Ele vive um pastor evangélico sem escrúpulos no filme “Entrando numa Roubada”, de André Moraes. “O filme é sobre vingança e frustração, mas tudo na vida tem humor, até as piores desgraças”, diz Veras, ex-Porta dos Fundos, que acaba de encerrar a novela Babilônia, mas se mantém como co-apresentador no programa “Encontro com Fátima Bernardes”:

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ISTOÉ – O público vai ver o humorista no filme?
Veras –
É até arriscado falar, mas acho que não.  Pode ser que vejam, mas meu objetivo foi mostrar um outro lado. Antes de ser comediante, sou ator. Não busquei a comédia. Versatilidade é uma característica da minha carreira. Sou ator, comediante, apresentador, e nesse filme é uma forma de mostrar que também sei fazer um vilão. Quanto mais opções o artista tem, menos chances de ficar desempregado.

ISTOÉ – Então é a dramaturgia da crise?
Veras –
Sim, a dramaturgia da crise. Faço comédia, novela, drama, apresento.  A gente deve se adaptar aos novos tempos.

ISTOÉ – Woody Allen já disse que nasceu aprisionado na figura do palhaço e que sempre vão associá-lo ao humor, mesmo que num drama. Isso faz sentido para você?
Veras –
Woody Allen é um gênio, e entendo quando ele diz que, ao fazer drama, as pessoas não compram. Por trás de todo comediante, há uma certa melancolia. Isso vem do palhaço. O comediante também fica de mal humor. A comédia talvez seja uma espécie de terapia. Fuga. Pode usada para acabar com uma certa timidez. Eu sempre fui muito tímido. Ainda me considero. E eu uso a comédia para me safar de situações. Se eu chegar num evento onde não conheça ninguém, o primeiro contato para quebrar o gelo vai ser tentando ser engraçado. Na época de adolescente, para conquistar uma menina, o humor teve essa função para mim. Nao é uma timidez aguda. Até porque. em cena, eu viro um bicho solto.

ISTOÉ – Como vê o humor no Brasil hoje?
Veras –
Talvez a gente tenha dado 10 passos à frente e dois atrás. O humor no Brasil sempre foi muito bem-vindo, só que a patrulha do politicamente correto está forte em cima do comediante. Não podemos mais brincar com a enfermeira, com o advogado, com a religião. O limite do humor é o bom senso e isso é muito intangível. A função do humor é fazer rir e colocar holofote nos problemas. também é ousar. E até errar. Nada está acima do bem e do mal. A gente erra. E quando erra, pede desculpas.

Foto: Alex Santana