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A ONU pede que a União Europeia receba 200 mil refugiados como parte de um "programa de realocação em massa" que seria obrigatório para todos os governos europeus. Nesta sexta-feira, 4, ministros de Relações Exteriores do bloco se reúnem para começar a desenhar soluções para a crise migratória e algunas propostas falam em estabelecer uma cota de 100 mil a 160 mil lugares para os refugiados.

Para a ONU, porém, isso não seria suficiente. O Alto Comissário da ONU para Refugiados, Antonio Guterres, alerta que a Europa vive um "momento de definição" e que não tem outra alternativa senão a de "mobilizar todas suas forças".

Pela Europa, governos tem indicado que estão dispostos a incrementar os lugares para refugiados, como em Portugal, Grã-Bretanha e Islândia. Mas o Leste Europeu resiste, temendo um volume maior de estrangeiros. Na quinta, o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orban, declarou que a crise de refugiados "não é um problema europeu, é um problema alemão". Para ele, as barreiras que a Hungria está estabelecendo é uma forma de "proteção da identidade cristã da Europa".

Situação
Enquanto isso, milhares de pessoas continuam acampadas fora da estação de trem de Budapeste, no que se transformou no mais novo campo de refugiados da Europa. O governo local continua a impedir que essas pessoas embarques nos trens em direção à Alemanha e Áustria.

"A Europa não pode continuar a responder dessa forma a crise", disse Guterres. "Nenhum país pode solucionar isso sozinho e ninguém pode se recusar a fazer sua parte", insistiu. "Uma estimativa muito preliminar indica uma necessidade potencial para aumentar as oportunidades de realocação para 200 mil lugares", explicou Guterres.

Se o número é considerado expressivo, lideranças da ONU dizem que não seria a primeira vez que a Europa atenderia a um apelo semelhante. Em 1956, o continente abriu suas portas para receber 200 mil húngaros, depois dos protestos em Budapeste. Nos anos 70, um milhão de vietnamitas foram realocados.

O apelo da ONU ocorre num momento que a sociedade civil e governos tentam avaliar o impacto da imagem da morte do garoto sírio de 3 anos Aylan Kurdi, nas costas da Tuquia. Para ONGs, ele se transformou em um símbolo dp fracasso da UE em lidar com os refugiados.

A pé
Mais de 1.000 migrantes saíram a pé nesta sexta-feira da principal estação de trens de Budapeste e pretendem seguir até a Áustria, depois que as autoridades húngaras suspenderam na terça-feira as viagens ferroviárias internacionais.

Os migrantes, incluindo alguns que estão bloqueados há vários dias na capital húngara, afirmam que pretendem caminhar até a fronteira austríaca, que fica a uma distância de 175 km.

Budapeste tentou em várias oportunidades transferir os migrantes à força para campos de refugiados.

Os migrantes, que incluem crianças e pessoas em cadeiras de rodas, atravessaram uma das principais pontes sobre o Danúbio sem qualquer intervenção das forças de segurança.

A Hungria, um dos principais países de trânsito na Europa central, recebeu mais 3.300 migrantes na quinta-feira, anunciou nesta sexta-feira o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados.

Grã-Bretanha acolherá milhares de refugiados sírios, diz Cameron
O primeiro-ministro britânico, David Cameron, anunciou nesta sexta-feira, 4, que seu país acolherá milhares de refugiados sírios. A decisão representa uma mudança na atuação da Grã-Bretanha na crise de imigração na Europa, diante da pressão pública."Diante da escala da crise e do sofrimento das pessoas, eu anuncio hoje que faremos mais, dando abrigo a milhares de outros refugiados sírios", afirmou Cameron, após se reunir com o primeiro-ministro de Portugal, Pedro Passos Coelho. O líder britânico acrescentou que seu governo discutirá o número exato com seus parceiros e acertará mais detalhes na próxima semana.

"Nós continuaremos com nossa abordagem de levá-los aos campos de refugiados. Isso dá a eles uma rota mais direta e segura para a Reino Unido, em vez de se arriscarem em uma jornada perigosa, que tem um custo tráfico de tantas vidas", afirmou. O anúncio marca uma importante mudança para Cameron, que dois dias antes disse que receber mais refugiados da Síria não seria a resposta para a crise. A Alemanha e outros países da União Europeia disseram que ofereceriam refúgio a milhares fugindo da guerra síria.

Políticos britânicos, inclusive do Partido Conservador do premiê, vinham pedindo mais ações no caso. Uma petição pública sobre o tema recebeu mais de 230 mil assinaturas até esta sexta-feira, superando a marca de 100 mil para que o assunto fosse debatido no Parlamento.
Cameron visita Lisboa e Madri para discutir sua agenda de reformas para a UE. Isso pode, porém, ficar à margem, diante da crise imigratória no bloco.