1440723285800.jpg

 

O filme Maomé, que narra os primeiros anos da vida do profeta e se tornou o mais caro da indústria cinematográfica iraniana, estreou nos cinemas de todo o país nesta quinta-feira, com um enorme interesse por parte do público.

Dirigido por Majid Majidi, o filme de 171 minutos teve um orçamento de 40 milhões de euros, em parte financiado pelo Estado iraniano, e levou mais de sete anos para chegar aos cinemas.

A estreia da superprodução estava prevista para quarta-feira, mas acabou sendo adiada por questões técnicas, disse o produtor e distribuidor do filme, Mohammad Reza Saberi.

Majidi, um dos cineastas mais renomados do Irã, conta em seu filme Maomé a infância do profeta para tentar acabar com a "imagem violenta" do Islã, segundo afirmou à agência France Presse antes da estreia do filme.

As filmagens foram feitas no sul de Teerã, em uma reprodução da cidade de Meca.

O longa-metragem, que estreou em 143 salas de cinema do Irã, também foi nesta quinta-feira na abertura do Festival de Cinema de Montreal. O diretor também espera atrair o interesse dos distribuidores europeus.

O experiente ator e cineasta, de 56 anos, que já dirigiu filmes premiados no exterior (Baran, Filhos do Paraíso), afirma que a escolha do tema estava clara. "Nos últimos anos, uma leitura equivocada do Islã no mundo ocidental levou a uma imagem violenta que não tem nenhuma relação com sua verdadeira natureza", disse.

Para Majidi, a "leitura equivocada" se deve a "grupos terroristas como o Estado Islâmico, que não têm laços com o Islã,mas se apropriaram do nome e desejam passar ao mundo uma imagem aterrorizante da religião". "Como artista muçulmano, meu objetivo era criar uma visão (do Islã) que mude a que existe no Ocidente, que se resume geralmente a um terrorismo islâmico vinculado à violência", afirmou o cineasta. "O Islã é diálogo, bondade e paz", assegurou.

Majidi busca ser otimista sobre a polêmica que seu filme pode provocar no mundo muçulmano, no qual a representação do profeta Maomé está proibida. "Países como a Arábia Saudita terão problemas com o filme, mas muitos outros países muçulmanos o pediam", disse.

No início do ano, o grande imã da Universidade Al-Azar do Cairo, Ahmed al-Tayeb, uma das principais autoridades do Islã sunita, reafirmou sua oposição à representação do profeta e declarou que isso equivale a "rebaixar seu status espiritual".

Mas o filme não representa o próprio profeta, e sim como ele percebia o mundo, através de seus olhos de menino, do nascimento até os 13 anos, o mundo de tirania que o cercava, explicou o cineasta.

O rosto não aparece em nenhum momento, "mas é possível observar sua silhueta e seu perfil". "Os mais radicais podem denunciar isso", reconheceu o diretor.

Majidi acha que seu filme deve "unir" e não dividir os muçulmanos sunitas e xiitas, que travam lutas violentas em vários países da região.
De acordo com o diretor, antes do lançamento, o filme foi exibido a líderes religiosos sunitas e xiitas no Irã e na Turquia, que o avaliaram "positivamente".

O cineasta deseja que Maomé represente o primeiro filme de uma trilogia, pois "não é possível mudar a imagem negativa do Islã com apenas um filme".

Não há uma data para o início das filmagens das segunda e terceira partes e essas produções não serão necessariamente dirigidas por Majidi, que incentiva todos os cineastas muçulmanos a seguir o seu caminho.

O diretor americano de origem síria Mustafa Akad já dirigiu um filme sobre Maomé, The Message, em 1976, com uma versão em inglês e outra em árabe com atores diferentes.

O filme provocou polêmica na época e muitas salas que exibiam o longa-metragem receberam ameaças de muçulmanos radicais, que consideraram a produção uma blasfêmia.