Durou pouco menos de sete meses o governo da esquerda radical na Grécia. Alexis Tsipras, primeiro-ministro eleito em janeiro com a promessa de recuperar a honra dos gregos e acabar com a austeridade imposta pela União Europeia, renunciou ao cargo na noite da quinta-feira 20. “Estou orgulhoso”, disse Tsipras em comunicado transmitido pela tevê local. “A Europa não é a mesma desde que o Syriza chegou ao poder.” Pressionado por um racha dentro de seu próprio partido, que ameaça a implementação das reformas necessárias para que Atenas receba um resgate de 86 bilhões de euros, o popular ex-premiê não viu outra saída a não ser recorrer novamente aos eleitores. As novas eleições devem acontecer entre 20 e 27 de setembro. Na expectativa de Tsipras, os gregos saberão reconhecer a “coragem” que ele teve nos últimos meses de negociações com a Comissão Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional (FMI) e reconduzirão o líder de 41 anos ao poder.

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RISCO
Alexis Tsipras mantém-se popular, mas perdeu o
apoio de um terço dos deputados do Syriza

O caminho não será fácil. Em sua faceta mais moderada, Tsipras traiu as promessas de campanha e colocou a Grécia à beira da saída da zona do euro – sem ter um plano para quando isso realmente acontecesse. Nesse período turbulento, Atenas deu um calote de 1,6 bilhão de euros no FMI e convocou um plebiscito para que o povo decidisse sobre uma proposta dos credores considerada “humilhante” pelo governo. Os gregos votaram “não”, mas, em seguida, tiveram que se contentar com um plano ainda mais austero, “o melhor que havia disponível”, nas palavras de Tsipras.

Ainda que o ex-premiê tenha tido o mérito de fazer o FMI reconhecer que a dívida era de fato impagável e propor um corte não aceito pelos demais credores, sobretudo a Alemanha, o impacto da recessão recaiu sobre os aposentados e mais pobres, e teve enorme custo simbólico. Na semana passada, um grupo alemão obteve a concessão de 14 aeroportos gregos, como os das ilhas Mykonos e Santorini, as mais famosas entre os turistas. Além disso, o sistema bancário passa por uma grave crise de liquidez. Desde dezembro, os correntistas retiraram cerca de 40 bilhões de euros dos bancos. No auge da crise, em julho, as agências foram fechadas e os saques ficaram restritos a 60 euros por dia nos caixas eletrônicos.

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ALTERNATIVA
Vangelis Meimarakis, líder da oposição, tentará formar um novo governo

Foi esse revés que fez com que a ala mais à esquerda se rebelasse contra o governo. Nas últimas semanas, Tsipras fez uma reforma ministerial, perdeu um terço do apoio de seus deputados e precisou da oposição para aprovar as medidas vinculadas ao terceiro socorro acordado com os credores. Agora os membros da Plataforma de Esquerda do Syriza, que defendem o retorno ao dracma, deverão criar uma força independente para disputar as próximas eleições. Quanto antes elas ocorrerem, menos tempo eles terão para se organizar. Por isso, o volume do barulho que farão num novo Parlamento ainda é uma incógnita. As pesquisas de opinião divulgadas em julho mostram o Syriza bem à frente de seus rivais. Num cenário menos provável, a oposição tentará criar um governo de minoria durante o fim de semana. Enquanto isso, o poder ficará temporariamente com a presidente da Suprema Corte, Vassiliki Thanou-Christophilou, e a economia seguirá acompanhada de incertezas.

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Fotos: ANDREAS SOLARO/AFP; Giannis Papanikos/AP 


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