Delegados e procuradores que atuam na força tarefa da Operação Lava Jato deverão receber até a segunda quinzena de setembro uma série de informações vindas do Exterior. Elas se relacionam a movimentações financeiras e titularidade de contas que teriam sido usadas por intermediários ou destinatários finais de propinas do Petrolão e que foram listadas por delatores nos últimos três meses. Tão logo receba esses dados, a força tarefa dará início a novas apurações. Uma delas com o objetivo de apurar o envolvimento do empresário Walter Faria com o escândalo que desviou bilhões da Petrobras, como foi revelado em reportagem de capa na última edição de ISTOÉ. Amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o empresário Faria é dono da Cervejaria Petrópolis, que produz a cerveja Itaipava, e nada tem a ver com o setor petrolífero, mas, segundo delação feita pelo executivo Júlio Camargo, recebeu ao menos US$ 3 milhões de propina em uma conta na Suíça. Além da Lava Jato, o envolvimento de Faria no escândalo do Petrolão será investigado na CPI da Petrobras e sua relação com as campanhas eleitorais do PT e da presidente Dilma Rousseff serão analisadas em ações que tramitam no Superior Tribunal Eleitoral (TSE).

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Segundo membros do Ministério Público Federal que atuam na Lava Jato, todas as informações prestadas pelo delator Júlio Camargo ao juiz Sérgio Moro e ao MP se confirmaram, inclusive as que levaram à denuncia contra o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (leia reportagem na pág. 38), na quinta-feira 20. De acordo com o depoimento prestado por Camargo, ele mesmo fez os depósitos de propinas em contas que lhe foram indicadas por Nestor Cerveró, ex-diretor internacional da Petrobras, e Fernando Baiano, apontado como emissário do PMDB no Petrolão. Quatro desses depósitos foram feitos em uma conta que Faria manteve na Suíça até 2010. A reportagem de ISTOÉ mostrou as movimentações feitas na conta que recebe o nome de Headline e como o dinheiro trafegou em outras contas de Faria em Montecarlo e no Uruguai.

Enquanto a Lava Jato aguarda a documentação do Exterior, parlamentares da CPI da Petrobras pretendem agilizar as investigações. “O que ISTOÉ revelou é muito grave. Vamos fazer o mais rápido possível um requerimento para que todos deponham”, afirmou o deputado Antônio Imbassay (PSDB-BA), vice-presidente da CPI, na quarta-feira 19. Os deputados pretendem primeiro convocar o Sr. Itaipava, como Faria é conhecido entre os políticos, e não descartam a possibilidade de novamente chamarem para depor Fernando Baiano e Nestor Cerveró. O objetivo é saber porque alguém que nada tem a ver com empreiteiras e nem com o setor de óleo e gás recebeu dinheiro do Petrolão. Também está no roteiro dos deputados apurar as relações entre Faria, o Petrolão e as campanhas do PT e da presidente. “Vamos investigar as contas, os depósitos e checar as eventuais conexões políticas dessa cervejaria”, concluiu Imbassay.

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A reportagem de ISTOÉ também mostrou uma suspeita coincidência de datas entre benefícios que o Sr. Itaipava obteve em órgãos públicos comandados por petistas, particularmente no Banco do Nordeste, e repasses financeiros da Cervejaria Petrópolis e suas distribuidoras às campanhas políticas do PT e da presidente. O volume de recursos repassados por Faria à campanha de Dilma em 2014 – a cervejaria foi a quarta maior doadora da campanha com R$ 17,5 milhões – chamou a atenção de dois ministros do TSE ouvidos na semana passada por ISTOÉ. “Vamos olhar com lupa essas contribuições nos processos que estão em tramitação, pois as contas da campanha petista do ano passado ainda não foram julgadas”, disse um dos ministros que insiste em apurar as finanças da campanha de Dilma.

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Fotos: Luiz Carlos Murauskas/Folhapress; Marcelo Camargo/Agência Brasil