Uma equipe de historiadores de arte do Museu da Cidade, órgão da Prefeitura de São Paulo responsável pela Oca, pavilhão de exposições no Parque do Ibirapuera, se prepara para iniciar um importante trabalho de investigação. Pelos próximos seis meses, esses profissionais tentarão dar fim ao mistério a respeito de quem seria o autor de um painel encontrado atrás de uma parede falsa no subsolo do museu. Por quinze anos, uma divisória de madeira branca guardou longe dos olhos do público uma obra de arte que padecia no ostracismo.

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Fresta mostra o painel por trás da parede de madeira (acima) e detalhe
da pintura que parece retratar a mão e a batina de um padre (abaixo)

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A pintura, que parece retratar a primeira missa realizada no País, fez parte da “Exposição da História de São Paulo”, que marcou a inauguração da Oca, em 1954. A mostra foi composta por quatro painéis em madeira, assinados pelos brasileiros Tarsila do Amaral (1886-1973), Di Cavalcanti (1897-1976) e Clóvis Graciano (1907-1988) e pelo português Manuel Lapa (1914-1979). Uma quinta obra, praticamente desconhecida, teria sido a única feita sobre uma parede de concreto.

O primeiro vislumbre desse mural foi possível há três semanas, quando uma abertura na parede permitiu visualizar o que parece ser a batina de um padre. Agora, o trabalho de investigação começará com a retirada total da parede falsa. A partir daí, os historiadores deverão seguir um roteiro para identificar o autor do mural, o mesmo seguido por investigadores que trabalham para descobrir a autoria de obras de arte. O primeiro passo será verificar se a pintura apresenta assinatura. Caso contrário, os pesquisadores deverão cruzar os documentos do museu com os da Prefeitura de São Paulo, que podem conter o registro da encomenda feita na época e o nome do autor do painel. “Por fim, se essa busca for infrutífera, a última possibilidade seria analisar o estilo e a técnica utilizada na obra, e compará-los aos de possíveis autores”, afirma Maria Izabel Branco Ribeiro, diretora do Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).

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Apesar de ter ficado exposto ao público por décadas, o painel do subsolo da Oca praticamente não teve registros visuais ou escritos e essa falta de documentação poderia atrapalhar o trabalho de investigação. Afonso Luz, diretor do Museu da Cidade, no entanto, garante que a autoria do mural será determinada em breve. “Essa investigação não será tão complexa, porque sabemos quando e por que o mural foi pintado”, diz. “É muito diferente do caso das obras de Aleijadinho, por exemplo, que até hoje têm sua autoria questionada.” A identificação de obras de arte é um processo demorado e muitas vezes polêmico. Recentemente, peritos italianos questionaram a autenticidade da obra “Retrato de Isabella D’Este”, atribuído a Leonardo Da Vinci (1452-1519).

No caso do painel da Oca, a hipótese mais forte de autoria recai sobre o português Manuel Lapa. “Há um registro escrito de que Lapa teria pintado um segundo mural para a inauguração do pavilhão”, diz Luz. “Porém, há uma diferença estilística muito grande entre o painel descoberto agora e a outra obra pintada por ele, por isso não temos certeza”. Enquanto o mistério não é solucionado, a boa notícia para os paulistanos e turistas que visitarem a cidade nos próximos meses é que o processo de restauro poderá ser acompanhado ao vivo. E, ao final do procedimento, o Museu da Cidade deve lançar um livro contando a história dos cinco painéis.

Fotos: SYLVIA MASINI 


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