O like, a mãozinha com o polegar levantado, símbolo para curtir um post no Facebook, ganhou nome de “Sweet Emotion” na instalação do artista cubano Alexander Guerra, que alegrou por dois meses o Malecón, em Havana, assim como uma pista de patinação de gelo e uma praia artificial. Às vésperas da reabertura da embaixada dos Estados Unidos na capital cubana, o tradicional calçadão de oito quilômetros se despediu da exposição a céu aberto “Behind the Wall”, mostra paralela à 12ª Bienal Internacional de Havana. O ato protocolar de reabertura das embaixadas, marcado para segunda-feira 20, simboliza o reatamento de relações rompidas entre os dois países desde 1961 e ainda depende do fim das sanções econômicas, mas os artistas cubanos dão asas aos seus anseios enquanto o processo político se desenrola. As artes visuais em Cuba vivem uma efervescência expandida pelo momento político e sua força se tornou um veículo para desvendar o futuro na ilha de Fidel.

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As obras refletem a abertura no País e ganham cada vez mais projeção internacional. A valorização é sentida entre artistas vivos já consagrados e os jovens. Em recente leilão da Sotheby’s em Nova York, uma obra dos cubanos Los Carpinteros surpreendeu ao ser arrematada US$ 87 mil. Na mesma época, num leilão na Phillips, outra obra da mesma dupla era arrematada por US$ 11 mil. O veterano Tomás Sanchez hoje tem quadros que podem chegar US$ 500 mil. O ex-Los Carpinteros Alexandre Arrechea alcançou na Sotheby’s US$ 118 mil. No Brasil, os cubanos também se projetam. Em outubro, São Paulo terá exposições de René Francisco (24/10), na galeria Nara Roesler, e de Los Carpinteros (27/10), na Fortes Vilaça – duas das mais importantes galerias do Brasil.

Pelos olhos da marchand Jacqueline Shor, colecionadora em São Paulo de arte contemporânea da America Latina com foco em Cuba, a internacionalização dos artistas de Havana ganhará impulso ainda maior com o desenrolar do reatamento de relações com os Estados Unidos. “Estive na Bienal, e, ao andar pela ilha, respira-se fé no futuro. Um dos maiores desejos dos cubanos é a informação global. O like no Malecón expressou isso. O Malecón, que sempre vi como uma fronteira na ilha, limitando-a geograficamente, virou um museu ao ar livre. Ali, diante do mar, é permitido sonhar”, diz Jacqueline, autora de livro “Nós que Ficamos” (ed. Marco Zero), sobre Cuba.

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Uma ponte se fortalece entre os artistas cubanos e os olheiros globais. “A abertura de Cuba está nos permitindo mostrar nosso trabalho para um público mais amplo, com outra experiência de vida”, diz a artista Adriana Corrente, 35 anos. “A visita de artistas estrangeiros, críticos e galeristas promove vínculos profissionais que ajudam a tornar visível internacionalmente a arte cubana.”

Aos 29 anos, Elizabeth Cerviño teve obras compradas pelo Perez Museum em Miami. A artista diferencia o momento político com a abertura iniciada há três anos no país, com a eliminação da autorização de saída e a promoção de intercâmbios culturais de artistas. “Agora vejo uma incerteza total. Ninguém parece estar consciente das consequências ou das oportunidades que se abrem”, opina. “A verdade é que Cuba vive há anos mudanças internas que permitiram cultivar um olhar para a dinâmica global.” Ela lembra que o mercado de arte cubano tem poucas galerias comerciais e que os artistas gerem suas carreiras, buscando galerias estrangeiras para representá-los. A política de preços depende do apoio de fora. As obras de Adriana e Elizabeth têm preço médio de US$ 8 mil. Há três anos, custavam de US$ 1mil a US$ 2 mil.

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A colecionadora Ella Cisneros, presidente da Fontails Cisneros Art Foundation em Miami, tem sido a grande propagadora da arte cubana. Nascida em Cuba, Ella é celebrada como uma das maiores colecionadoras do mundo. Ex-mulher do magnata da mídia venezuelana Oswaldo Cisneros, ela se impôs a missão de difundir os artistas. “O mercado lá é formado por gente como eu e poucas pessoas que compram sua arte.

Agora as coisas estão mudando. Há muitos american os arrematando arte cubana”, diz Ella, com fé num futuro de oportunidades para todos e, evoé, como cantou Chico Buarque, para os jovens à vista.