Uma maneira simples de atendimento – sem recorrer a fórmulas mirabolantes ou depender de equipamentos caríssimos – está conseguindo reduzir a mortalidade de mulheres com câncer de mama em São Paulo. Trata-se da estratégia de assistência criada no Centro de Referência da Saúde da Mulher, do Hospital Perola Byington, unidade da rede pública de saúde. Uma pesquisa que acaba de ser concluída, publicada na revista da Sociedade Brasileira de Mastologia, apontou que o tempo médio de atendimento das mulheres foi de 32 dias, entre a realização da biópsia e o início do tratamento. Praticamente a metade do preconizado pelo Ministério da Saúde, que é de sessenta dias, e bem inferior ao que ocorre na realidade do SUS, no qual boa parte dos casos avançados da doença é decorrência de uma espera de até seis meses, em média, para o começo do combate à enfermidade após sua confirmação.

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RAPIDEZ
Mara retirou um tumor pouco mais de um mês após sua detecção

A agilidade no atendimento é vital para elevar as chances de cura. “Quando os tumores são diagnosticados em estágios iniciais, a curva de mortalidade em dez anos se reduz”, explica o médico Luiz Henrique Gebrim, diretor do centro de referência e integrante da Sociedade Brasileira de Mastologia. Sabe-se que a chance de cura ou sobrevida em dez anos nos estágios I, II e III da enfermidade é, respectivamente, de 80%, de 55% e de 30%. “Se temos 60% das pacientes no estágio III, a sobrevida para este grupo é de apenas 30%”, diz o especialista. “Mas quando as atendemos mais rapidamente, metade passa a iniciar o tratamento no estágio II, aumentando a possibilidade de cura destas mulheres de 30% para 55%”, completa.

A rapidez na assistência é resultado de um modelo no qual em uma única consulta são realizados todos os exames necessários para o diagnóstico. Fala-se aqui da mamografia, do ultrassom e da biópsia. “A área de atendimento é junto a dos equipamentos e a equipe é treinada para realizar a biópsia no mesmo dia”, explica Gebrim. O time de profissionais inclui cirurgiões, ginecologistas, radiologistas e patologistas. “Não é necessário investimento algum. Basta integrar as equipes e treinamento para a execução da biópsia no mesmo dia de atendimento”, afirma Gebrim.

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ESTRATÉGIA
Segundo Gebrim, é preciso apenas integrar e treinar as equipes

A artesã e comerciante paulista Mara Lúcia Martim, 62 anos, é uma das pacientes atendidas no serviço. Ela teve o tumor de mama diagnosticado em novembro de 2011 e pouco mais de um mês depois já estava sendo submetida a uma cirurgia para sua retirada. “Foi tudo feito de maneira muito ágil”, lembra. “Passei por todas as etapas, do diagnóstico, pré-operatório e cirurgia rapidamente”, conta. Tempos depois da cirurgia, Mara submeteu-se a uma mamografia, que apresentou uma pequena alteração. “Os médicos ficaram na dúvida se era um novo tumor ou uma cicatriz da operação. A avaliação do exame foi feita no mesmo dia”, diz. Era uma cicatriz. A comerciante continua em tratamento e agora se prepara para outra operação, desta vez para extrair pólipos no endométrio (tecido que reveste o útero internamente).

A estratégia foi inspirada em modelos adotados em hospitais públicos de Ontário, no Canadá, e de Paris, na França. No ano passado, foi premiada pela Fundação Susan Komen – dedicada ao financiamento de atividades de combate à enfermidade – para que possa ser expandida a cinco cidades brasileiras (Fortaleza, Manaus, Goiânia, Uberlândia e Teresina).

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Fotos: João Castellano/Agência Istoé; Airam Abel; Shutterstock