JUDITH LAUAND: OS ANOS 50 E A CONSTRUÇÃO DA GEOMETRIA/Muba e IAC, SP/ até 25/7

Nem figurativa, nem geométrica. Concreta! Única mulher do Grupo Ruptura (1952-1959), responsável por “reformar” arte brasileira a partir dos preceitos da vida contemporânea industrial, Judith Lauand intitulava a maior parte de suas obras simplesmente por “Concretos” ou “Elementos”, sempre numerados. A sistematização do olhar dessa dama do Concretismo brasileiro, que no início dos anos 1950 passa a enxergar a realidade em linhas, planos e vetores, é apresentada em “Judith Lauand: os anos 50 e a construção da geometria”, em cartaz no Museu das Belas Artes (Muba) e no Instituto de Arte Contemporânea (IAC), em São Paulo.

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Com curadoria de Celso Fioravante, a exposição se concentra no impressionante espectro de investigações de formas, técnicas e matérias a que Lauand se lança em apenas nove anos de trabalho. É notável que a “construção da geometria” tenha acontecido tão rápido. Se em 1950 Lauand realizava um comportado retrato do filho do barbeiro da cidade de Pontal, no interior paulista, onde nasceu em 1922, apenas dois anos depois ela desconstruía uma paisagem rural com vaquinha pastando, dissecando-a em ângulos geométricos; e, em oito anos, havia reduzido completamente sua operação plástica a triângulos, losangos, octógonos, flechas, estrelas, cataventos.

A intensa atividade de Lauand – e dos grupos concerto e neoconcreto de São Paulo e do Rio – pode ser atribuída ao acelerado processo de industrialização do país durante a década de 1950 e a sua repercussão direta no sistema artístico local. A Bienal de São Paulo, criada em 1951, é o mais significativos desses efeitos, irradiando à toda uma geração. Como monitora da segunda edição da Bienal, em 1953, que ficou conhecida como a “Bienal da Guernica”, porque trouxe o mais importante trabalho de Pablo Picasso, Lauand travou contato direto com o artista Henry Moore e com obras de Paul Klee, Kokoschka, Mondrian, Calder, entre outros. A Bienal, assim como o ingresso no clube do Bolinha que era o Grupo Ruptura, contaram muitos pontos para a eficiência das suas operações de redução e geometrização da forma. Mas poucos artistas de seu tempo chegaram tão longe em tão pouco tempo.

Com telas, gravuras, objetos de parede, cadernos, desenhos preparatórios, estudos, reproduções de jornais e farto material documental, a exposição é uma grata presença nos ambientes museológicos de uma instituição pedagógica, a Belas Artes. 

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