Ex-primeira-dama dos Estados Unidos e mãe de um ex-presidente, Barbara Bush foi questionada, há dois anos, sobre as aspirações do filho Jeb à Casa Branca. Sua resposta: “Já tivemos Bushes suficientes.” Apesar de muitos americanos concordarem com o diagnóstico da matriarca de 90 anos, ela mudou de ideia. Em março, Barbara assinou um e-mail pedindo recursos para a campanha de Jeb. Na segunda-feira 15, ela representou a família no anúncio oficial de sua pré-candidatura à Presidência dos EUA no salão de uma faculdade em Miami. “Nenhum de nós merece esse emprego por direito de currículo, partido, idade ou família”, disse o republicano. “Não é a vez de ninguém. Esse é um teste para todos.” Nem George Bush pai nem George W. Bush estavam na plateia, em mais uma demonstração de que, em sua primeira campanha nacional, o novo Bush quer ser conhecido apenas como Jeb. Seu sobrenome, afinal, pode atrair muitos doadores e ter certa influência dentro do Partido Republicano, mas não é nem um pouco popular entre os cidadãos comuns.

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EM CAMPANHA
Jeb repete a estratégia de "esconder" o sobrenome desde a corrida para governador

Jeb sabe disso e repete a mesma estratégia de “esconder” o sobrenome desde sua primeira campanha ao governo do Estado da Flórida, em 1994. Dessa vez, ainda é recente a lembrança de uma guerra contra armas de destruição em massa inexistentes, que custou mais de US$ 2 trilhões aos cofres do Tesouro e milhares de vidas ao longo de quase nove anos. Jeb, que culpou as falhas no trabalho da inteligência, tem dado declarações controversas sobre o tema e chegou a dizer, numa reunião privada, que o irmão seria um de seus principais conselheiros na política para o Oriente Médio. Mas a Guerra do Iraque tampouco é um assunto que os democratas estarão dispostos a debater se Hillary Clinton for escolhida como candidata do partido adversário. Em 2002, a então senadora votou a favor da invasão do país árabe.

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Considerado um dos favoritos à corrida presidencial, Jeb carrega a vantagem de aliar a figura de um homem de negócios branco, cristão e conservador com a de patriarca de uma família multicultural. Casado com uma mexicana, ele tem três filhos hispânico-americanos e o idioma oficial em sua casa é o espanhol. Para o Partido Republicano, que tem perdido votos entre os eleitores latinos, essa aproximação é fundamental. “Jeb é muito mais atrativo para essa fatia do eleitorado do que candidatos republicanos de outros ciclos, como Mitt Romney e John McCain, e tem grande apelo entre os mexicanos, que são dois terços dos latinos aptos a votar”, disse à ISTOÉ Antonio González, presidente do Instituto William C. Velazquez, de San Antonio, Texas. “Mas, para conquistar outras minorias, o desafio de Jeb será maior. Hillary é muito popular nesse aspecto.” Defensor da família tradicional e contrário ao casamento homo-afetivo, o republicano já declarou que mães solteiras deveriam ser estigmatizadas e que não teria nenhuma política específica para os negros. No período à frente do governo da Flórida, entre 1999 e 2007, ele também se envolveu em polêmica ao obrigar que Terri Schiavo, uma americana que há 13 anos vivia em estado vegetativo depois de sofrer uma parada cardíaca, fosse alimentada por um tubo, à revelia dos familiares da paciente.

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Apesar disso, Jeb é muito popular na Flórida, um dos Estados decisivos para a escolha do presidente no sistema de colégios eleitorais. Quando era governador, ele reduziu o papel do Estado ao liderar um programa de privatizações, flexibilizar o regime de trabalho de 16 mil funcionários estatais e cortar bilhões de dólares em impostos. Assim, atraiu investidores e impulsionou a renda das famílias. Além disso, fez reformas educacionais que se popularizaram pelo país e, como um verdadeiro liberal americano, ampliou os direitos de donos de armas de fogo. Para conseguir a nomeação, o ex-governador deverá enfrentar nos próximos meses até 20 concorrentes dentro de seu próprio partido. Entre eles, um antigo pupilo: Marco Rubio.

Fotos: Wilfredo Lee e AP Photo/Charlie Neibergall / AP Photo