Em novembro de 2012, o tabloide americano The Globe publicou que a rainha da Inglaterra estaria à beira da morte e que a duquesa da Cornualha tramava tomar-lhe o trono. Bom, todos sabem que Elizabeth II está viva e com a agenda cheia. Em julho do ano passado, o mesmo jornal revelou “em reportagem exclusiva” que a mulher do príncipe William estaria “despedaçada após um aborto traumático.” Meses depois, o bebê mais fotografado do ano é Charlotte Elizabeth Diana, menina que Kate deu à luz em maio. Do presidente dos Estados Unidos já disseram que se separou, em outubro último — sendo que Barack Obama e Michele continuam firmes e fortes — e também que “ele foi diagnosticado por expert em saúde mental”, em fevereiro, como “portador de dois distúrbios de personalidade”. Ou seja, um maluco com chancela médica no comando da nação mais poderosa do mundo. Foi essa mesma publicação que deu, na semana passada, uma notícia que repercute no mundo todo: Camilla Parker-Bowles teria traído o príncipe Charles e pedido 320 milhões de euros para oficializar o divórcio.

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O Palácio de Buckingham não comenta esse tipo de notícia mundana — portanto, não há desmentido. Mas, também, nenhum especialista em monarquia ou da imprensa tradicional confirmou a informação de que a duquesa da Corunualha teria sido flagrada por câmera, cujo vídeo não apareceu ainda, beijando um ator que conhecera em 2011. Até agora, a fonte original da notícia é somente o Globe que, junto com seu site globemagazine.com, consegue ser mais sensacionalista do que publicações tradicionais nessa linha, como o inglês The Sun. Para Lúcia Helena Mendes Pereira, doutora em sociologia pela Universidade de Coimbra e professora de Ótica do Jornalismo da Universidade Federal de Tocantins, o Globe pratica o que chama de “jornalismo de mercado”, no qual a notícia não passa de um produto. E, se a informação publicada não for verdadeira, “não há (para a vítima) ressarcimento à altura do dilaceramento da moral.”

Mas, outros acham que uma indenização pode apaziguar. Como o ator Timothy Dalton, que ganhou uma bolada, cujo valor não foi divulgado, por calúnia, após a revista ter dito que ele perderia o papel de James Bond, em 1990. Na edição da semana passada, o tabloide estampou na capa uma manchete forte candidata a processo: duas fotos de Hilary Clinton e a frase “Sou uma alcoólatra”. Difícil acreditar que uma política tarimbada e candidata à presidência dos Estados Unidos tenha dado essa declaração suicida. Na mesma capa, outra manchete fala de uma das fixações da publicação: filhos secretos. Dessa vez, o bastardo seria do cantor já falecido Elvis Presley, localizado agora, mas nascido em 1960.

No livro “Ombudsman – O relógio de Pascal” (Geração Editorial), o jornalista Caio Túlio Costa conta um episódio em que o Globe — que ele chama de “imprensa marrom vendida em supermercados americanos” — mostra não ter publicado apenas mentiras. Após o tabloide revelar o nome e outros dados de uma moça que teria sido estuprada por um sobrinho do então senador Ted Kennedy em 1991, a poderosa rede de TV NBC e o não menos forte jornal The New York Times entraram na história, que ganhou enormes proporções. Especialista em manchetes de humor, o grupo brasileiro que produz o bem-sucedido jornal online Sensacionalistas.com, acha que o Globe, e outros do mesmo estilo, “perderam a mão” e hoje “gozam de uma liberdade bastante polêmica”, como disse Martha Mendonça, uma das roteiristas do site. “Mas a gente gostaria muito de ter dado a notícia de que a Duquesa da Cornualha está botando chifres no príncipe. Piada pronta melhor não há!”

Colaborou: Helena Borges 

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