chamada.jpg
PRÁTICA
O massoterapeuta cego Fernando Tsukiyama (à esq.) atende paciente sob supervisão de Takahama

img.jpg
Todo vestido de branco, o deficiente visual José Luiz Oliveira, 39 anos, chega cedo à praça Benedito Calixto, no bairro de Pinheiros, zona oeste de São Paulo. Depois de tomar um café e fazer exercícios de alongamento para braços, pernas e coluna, ele está pronto para dar início às sessões de massagem que variam entre 15 minutos e uma hora. Das 9h até cerca de 19h, ele atenderá, em média, 30 pessoas. Na mesma sala, cedida gratuitamente para massagem pela associação dos amigos da praça, encontramse mais duas massagistas com deficiência visual, Aparecida Santos e Samantha Gouvea. Os três são formados na mesma instituição, a Escola Profissionalizante Oniki, na Vila Guilhermina, zona leste de São Paulo. Antes de estudar massagem, Oliveira era pedreiro, armador e eletricista. Há nove anos, perdeu a visão por causa de glaucoma e uma doença chamada retinose pigmentar. Passou por muitas dificuldades até ser levado pela irmã, Maria da Saúde, também cega, à escola de massagistas. Agora, Oliveira diz que não tem mais do que se queixar. “Aprendi a fazer massagem oriental, tenho uma profissão e ganho o suficiente para me sustentar. Voltei a me sentir bem”, explica ele, que recebeu o diploma de massoterapeuta há dois anos e encontrou um caminho para a inclusão no mercado de trabalho. “Alunos como Oliveira são a concretização do ideal do fundador da escola, o massagista Ichijiro Oniki”, diz Fernando Takahama, administrador da escola que já formou 100 massagistas com deficiências visuais.

img1.jpg
RECUPERAÇÃO
Oliveira massageia o médico Abel Menezes. Depois do curso, ele voltou a se sustentar

Cego desde a infância, Oniki aprendeu o ofício por meio de um programa do governo japonês destinado a garantir uma formação aos deficientes visuais. Depois de estudar, fundou uma escola para ensinar outras pessoas como o mesmo problema e fez viagens à América Latina para dar palestras. “Ele ficou chocado quando um deficiente visual perguntou, no Peru, se poderia casar e ter filhos”, conta Takahama. “Entendeu que havia muito desamparo e decidiu se instalar em São Paulo, onde havia maior número de pessoas cegas.” Em 1990, Oniki pegou as economias e, com a mulher, Junko, comprou o prédio onde fica a sede da escola, em São Paulo. Com a morte do mestre, em 2007, aos 94 anos, o discípulo ficou incumbido de levar seu projeto adiante. “Não é fácil porque não temos suporte, a não ser as mensalidades. Por isso, para manter a escola, passamos a aceitar pessoas sem problemas de visão no período noturno”, diz Takahama, que enxerga bem e aprendeu o ofício com Oniki. “Deixei de ser bancário para trabalhar na escola. Isso mudou minha vida”, diz. No Japão e na China, onde a massagem terapêutica é uma prática tradicional, é comum ser ministrada por pessoas com deficiência visual há centenas de anos. Apesar de ser uma opção muito mais recente no Brasil, a especialização tem se mostrado um meio eficiente para ampliar o campo de trabalho, sobretudo para quem tem deficiência visual. “O setor de bemestar é um dos que mais cresceram na última década”, diz Takahama.

img3.jpg

Prova disso, no que se refere à escola Oniki, é que não faltam oportunidades. Além de atuar na praça, os técnicos ali formados são chamados por empresas como Caixa Econômica Federal, Hospital 9 de Julho, DirecTV e Sky. Também atendem em spas, clínicas de estética e dermatologia e clubes. “A massagem é cada vez mais aceita no Brasil”, diz Takahama. O administrador lembra também que existem outras boas escolas especializadas no ensino de massagem a deficientes visuais no País certificadas pelo governo, como o Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro. “O sonho de Oniki era profissionalizar parte da população de cegos do Brasil. E isso está acontecendo”, diz.

 

img2.jpg