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O suíço Joseph Blatter foi reeleito nesta sexta-feira (29) presidente da Federação Internacional de Futebol (Fifa), apesar do maior escândalo de corrupção da história da entidade, iniciado nesta semana após a prisão de sete dirigentes, entre eles o brasileiro José Maria Marin.

Em primeiro turno, Blatter obteve 133 dos 209 votos possíveis, contra 73 do candidato de oposição, o príncipe jordaniano Ali Bin Hussei bin al-Hussein.

O resultado levaria o pleito ao segundo turno, mas, ao perceber que não conseguiria reverter a situação, Al-Hussein desistiu da disputa.

A eleição ocorreu em Zurique, na Suíça, mesmo local onde os membros do alto escalão da Fifa foram presos na última quarta-feira (27).

Blatter, de 79 anos, assumirá seu quinto mandato à frente da Fifa. Ele estará, no entanto, à frente de uma entidade falida moralmente, com a ameaça da fuga de patrocinadores, um racha inédito com a Europa e uma oposição interna muito superior ao que esperava.

As detenções de cartolas nos últimos dias em Zurique chegaram a dar um impulso para a campanha de Ali. Mesmo num curral eleitoral de Blatter, como na América do Sul, Ali chegou a ganhar alguns votos, como o do Uruguai e Peru. A CBF também indicou que estava decepcionada com Blatter e se dizia inclinada a votar por Ali.

"Não sou perfeito. Mas vamos trabalhar. Prometo que vou dar uma Fifa forte a meu sucessor", disse Blatter. Ele também rejeitou a acusação de velho. "A idade não é um problema. Tem muita gente de 50 anos mais velha que eu", atacou.

Blatter assume o cargo em uma entidade em sua pior crise. A Europa chegou a alertar nesta semana que vai reunir seus membros no próximo fim de semana para determinar até que ponto vão manter a relação com a Fifa. Um dos representantes da Uefa na entidade, David Gills, já indicou que vai renunciar a seu cargo na Fifa diante da permanência de Blatter. Um dos riscos é de que seleções e clubes europeus se recusem a participar de torneios da Fifa, num racha inédito no futebol mundial.

Para tentar evitar a pressão de Blatter sobre os eleitores, principalmente os menores, a federação americana pediu que o voto fosse secreto. Por anos, Blatter tem distribuído recursos para as federações e cartolas pelo mundo.

Antes da votação, membros da CBF indicaram que consideraram a atitude de Blatter como uma "traição" diante da falta de apoio a José Maria Marin e à crise de corrupção na entidade. O Brasil, depois de declarar seu apoio à Blatter, estava inclinado a votar por Ali.

Mas Blatter mantém o cargo em uma entidade dividida. Antes da votação, ele pediu por "unidade" e prometeu criar novos organismos dentro da entidade para fortalecer o futebol. Chegando a se emocionar e arrancando palmas, fez um apelo. "Eu só quero ficar com vocês", disse, com a voz embargada e tremendo. "Não precisamos de revolução, mas de evolução", afirmou.

"As pessoas me chamam de responsável por tudo. Está bem. Então assumo isso e vamos juntos para que, ao final de meu mandato, eu possa entregar uma Fifa forte, fora da tempestade", disse. "Eu prometo uma Fifa forte", insistiu.

"Precisamos fortalecer as fileiras e ir adiante", lamentou. "Vamos recolocar a Fifa nos trilhos e vamos começar amanhã mesmo com isso", disse.

O cartola também rejeitou a tese de que estava por muito tempo na Fifa. "Mas o que é a noção de tempo. O tempo é eterno", disse. Para ele, os 17 anos de presidência foram "curtos".

Blatter insistiu que foi ele quem estabeleceu regras para tentar controlar o comportamento dos cartolas e garante que existe uma divisão de poderes dentro da entidade. "Mas não podemos controlar todos fora da Fifa", disse. Ele também alerta que cabe às confederações regionais agir para se reformarem. "Só assim poderemos ter maior controle. Em nenhum país um tribunal pode agir sozinho", insistiu.

ENCRUZILHADA

Ao discursar antes da eleição, Ali havia feito um duro alerta e proliferou ataques velados ao cartola que venceu o pleito. "Tudo está em jogo", declarou. "A Fifa não existe numa bolha. O mundo nos olha. A Fifa não é uma pessoa", alertou. "Não poderia ver um momento mais decisivo para Fifa que este e temos o direito de um novo começo", insistiu.

"A mudança não ocorre em um dia. É um processo. Precisamos de uma cultura que apoie transparência", apelou. "Estamos numa encruzilhada e precisaremos de um líder para arrumar essa confusão em que estamos", insistiu.

Ele também havia prometido "não se esconder". "Vou assumir as responsabilidades", disse. "A Fifa não é uma empresa", contra-atacou Ali ao comentário de Blatter de que a entidade é uma empresa".

RICO

A pior crise da história da Fifa coincide com seu momento de maior exuberância financeira. Durante o Congresso da entidade nesta manhã em Zurique, a Fifa apresentou suas contas e apontou para uma receita recorde de US$ 5,7 bilhões, graças ao sucesso comercial da Copa do Mundo no Brasil. No total, os lucros somaram US$ 338 milhões
Entre 2011 e 2014, contratos de TV aumentaram em 43%, contra aumento de marketing de 29%. Em média, a receita aumentou em 37%, uma taxa inédita.

Hoje, a Fifa está sentada em um fundo de reserva de US$ 1,5 bilhão. "A Copa do Mundo foi muito boa para nossos parceiros comerciais", comemorou o vice-presidente da Fifa, Issa Hayatou diante das 209 federações. Em apenas dez anos, as reservas aumentaram em cinco vezes.

Hayatou ainda apontou que parte desses lucros é compartilhado aos cartolas de todo o mundo. Em quatro anos, a entidade distribuiu às federações nacionais e regionais um total de US$ 261 milhões. "Todos lucram com o sucesso da Fifa", disse.

Ele ainda garantiu que, entre 2015 e 2018, os resultados serão mantidos, assim como a distribuição de dinheiro.

Já o auditor chefe da Fifa, Domenico Scala, faz seu alerta sobre o controle das atitudes dos dirigentes. Segundo ele, nos últimos anos a Fifa adotou uma série de medidas para garantir transparência e combater corrupção. "Mas para que possamos vencer, precisamos acabar com a cultura de corrupção que existe", declarou.