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platéia de quatro mil convidados, entre eles o ator Robin Williams e o ex-presidente americano Al Gore, quase veio abaixo quando Steve Jobs anunciou uma reviravolta nos rumos da Apple, a empresa que ajudou a fundar e que preside desde 1997. Mais magro e de cabelos mais grisalhos do que há um ano, quando iniciou sua luta contra um câncer no pâncreas, Jobs abriu como de hábito a conferência anual dos computadores Macintosh, que costuma levar a San Francisco, na Califórnia, uma legião de fanáticos pelos produtos da empresa da maçã.

Como em outros janeiros, ele subiu ao palco do centro de convenções Moscone vestindo calça jeans e camiseta preta, fez um balanço das atividades da companhia, mostrou as novidades do ano e posou longamente para os fotógrafos. Dessa vez, porém, sua ambiciosa investida teve sabor de vingança, já que ele passou boa parte do ano afastado de suas funções para se submeter a tratamentos de saúde. Também presidente do estúdio de animações digitais para cinema Pixar, o executivo há anos enfrenta o estigma de elitista por conta de seus computadores de apurado design e preços muito mais salgados do que os concorrentes PC. Enfim Jobs cedeu aos inúmeros pedidos de clientes – e dos críticos.

Lançou o Mac mini, o primeiro computador barato de sua história de quase três décadas, para disputar um lugar ao sol no concorrido mercado de computadores pessoais, cada vez mais presentes nas casas como uma central de entretenimento e comunicação. Do tamanho de um DVD portátil, o Mac mini chega às lojas dos EUA a partir de 22 de janeiro, com preço inicial de US$ 500 (R$ 1.350). O minicomputador é uma caixa branca de 16,5 centímetros de largura e 5 cm de altura com um leitor de discos ópticos onde se pode inserir DVDs e gravar CDs de música. A mágica do preço baixo se explica. O novo membro da família vem sem teclado, mouse ou monitor. Em tese, ele funciona com qualquer desses acessórios de outros fabricantes, desde que tenham conector USB. O minicomputador tem conexão para internet, rede e saídas para plugar a maioria dos aparelhos digitais, como câmeras e filmadoras. “Ninguém mais terá desculpa para dizer que não pode ter um Macintosh”, disse o presidente da Apple.

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No Brasil, por causa dos impostos elevados para produtos importados, os Macintosh costumam custar pelo menos três vezes mais caro, e não deve ser diferente nesse caso. Oficialmente, o produto deve desembarcar em território nacional por volta de março. Equipada com um processador (chip) G4 e memória de 256 MB, a máquina vem em duas versões, uma com disco rígido capaz de armazenar 40 GB e outra com 80 GB, e preços de US$ 500 e US$ 600, respectivamente. Além do design, seu grande atrativo são os programas. O Mac mini já sai de fábrica com o iLife´05, um pacote com vários softwares para organizar e editar fotografias, filmes digitais, DVDs e o GarageBand, criado para quem quer montar sua própria banda de música e que agora grava até oito canais de áudio. O pacote de aplicativos iLife também está à venda, a US$ 80 (R$ 215). Foi preciso esperar muito para chegar a um Mac mais barato. A nova estratégia marca o início de uma profunda mudança na Apple e revela a aposta de que os computadores não passam de um novo eletrodoméstico para a casa moderna. Há anos antecipada como o futuro da informática, essa tendência de unir vários aparelhos digitais multimídia que se comunicam entre si ficou evidente na Consumer Electronics Show, uma das maiores feiras do mundo, que ocorreu há duas semanas em Las Vegas, nos EUA. Durante o evento, o que mais se viu foram aparelhos sem fio e uma multiplicidade de geringonças eletrônicas para tirar fotos, guardar músicas, exibir filmes, imagens de televisão em alta definição e transmitir informações para vários aparelhos, em qualquer canto da casa.

No fundo, os novos produtos anunciados na semana passada pela Apple representam mais lenha na fogueira da competição com a arqui-rival Microsoft, a empresa de Bill Gates. A chegada do Mac mini não deve representar um abalo sísmico na plataforma Windows, que funciona em nove entre dez PCs no mundo. A própria Microsoft se alinha a esse mundo convergente da tecnologia, em que há pouca diferença entre telefone celular, walkman, videogame ou computador. A rota ambiciosa de Steve Jobs na verdade é um reflexo do sucesso dos tocadores de música digitais da Apple, o iPod, que em três anos vendeu dez milhões de unidades, sendo 4,5 milhões só no último trimestre de 2004. Neste período, a empresa teve um lucro de US$ 295 milhões. Quatro vezes o seu faturamento anterior. O iPod funciona em conjunto com a loja virtual iTunes, inaugurada em abril de 2003, que já vendeu 230 milhões de canções, ou quase 1,25 milhão baixadas da internet por dia.

Para aproveitar essa febre da música digital, Jobs deixou para o final da apresentação de uma hora e meia seu lançamento mais popular, a versão simplificada – e barata – do tocador de músicas iPod. Substituto dos velhos walkman, o aparelho ganhou uma versão enxuta, o iPod Shuffle. Com a altura do dedo indicador e menor do que um pacote de chicletes, o novo tocador de músicas não tem visor de cristal líquido nem outras sofisticações, como o modelo original. Só que funciona como um disco para armazenar dados arquivados no computador, seja Mac, seja PC. Detalhe: além do fone de ouvidos, o iPod Shuffle vem com um cordão branco para pendurar no pescoço, como um colar. Para concorrer no mercado de aparelhos de música mp3, o novo iPod terá dois modelos. A euforia para comprar os primeiros iPod foi tanta que a loja Apple no centro de San Francisco, a primeira a receber os aparelhos, formou filas monumentais durante vários dias.

Tão badalado quanto o novo iPod foi um acordo entre a Apple e as montadoras BMW e Mercedes, que lançaram adaptadores para controlar o iPod, escolher as músicas e selecionar os cantores a partir de quatro botões fixos no volante do carro. Na feira do Macintosh, formaram-se filas para ver e ouvir o tocador de músicas a bordo dos primeiros Mercedes-Benz que saem de fábrica preparados para que seu dono ouça no carro sua coleção de músicas digitais. Os primeiros Mercedes a receber a novidade, a nova classe M, começam a circular pelas ruas em abril, e o mesmo deve ocorrer com os demais modelos 2005 e 2006. Quem quiser pode adaptar a novidade para outros carros, ao custo de US$ 300, mais a instalação.

Requinte – Outras montadoras aderiram à moda, entre elas a Nissan, a Volvo e a Scion. Na Europa, as luxuosas Alpha Romeo e Ferrari prometem trilhar o mesmo caminho, que a alemã BMW inaugurou, em 2004, ao ser a primeira montadora a oferecer a facilidade de usar o mesmo aparelho de som em casa, na academia e no painel do carro. Pela quantidade de acessórios e frescuras criadas para atrair a atenção e o dinheiro dos ávidos consumidores de música digital, o iPod deve entrar para a lista dos maiores objetos do desejo dos dias atuais. Só o ator Robin Williams, que tem quatro iPods para a família, prometeu ser um dos primeiros a comprar o novo colar musical da Apple. O sorriso de Steve Jobs não deixa dúvida: atitudes como a de Robin Williams soam como música para seus ouvidos.

Natal musical Desde que foi lançada em 2003, a loja virtual iTunes vendeu 230 milhões de canções. Ao todo, a Apple vendeu dez milhões de tocadores de música iPod desde 2001. Só em 2004 foram 8,2 milhões, mais da metade (4,5 milhões) foram comprados nos últimos três meses do ano