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Em tempos em que a medicina é capaz de realizar transplantes de órgãos tão complexos como o de pulmão, é difícil entender como o processo que liga doadores e receptores de órgãos pode ser ainda tão arcaico.

Atualmente, a conexão que leva o fim de uma vida ao recomeço de outra é “manual”. Ao detectar um potencial doador de órgãos, o grupo médico entra em contato com o Serviço de Procura de Órgãos e Tecidos (SPOT) da região, que vai até o local, recolhe os dados do possível doador, solicita os exames médicos necessários, volta ao escritório regional, preenche um formulário e o envia via fax para a Central de Transplantes. Chegando lá, a procura por um receptor compatível é feita por telefone, contactando-se, uma a uma, as equipes médicas responsáveis pelos pacientes na fila do transplante. Todo esse processo leva horas preciosas.

Membro de um grupo de pesquisas que envolve profissionais de tecnologia, medicina e biomedicina, a doutoranda e professora da Cristina Corrêa Oliveira não ficou parada diante do problema, mas o apresentou a um grupo alunos da Fatec da Zona Leste da capital paulista. Com o financiamento da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), eles transformaram o desafio no aplicativo (app) eTransplante.

Por enquanto, o sistema funciona com banco de dados fictício, mas o projeto já recebeu a homologação da secretaria estadual de saúde. Até o fim deste ano, o eTransplante deve entrar em operação no estado de São Paulo. Em um primeiro momento, o aplicativo será usado apenas na etapa de procura por receptores compatíveis, fase chamada de “saída”. As informações com todos os dados do órgão a ser doado serão distribuídas via app para as equipes médicas com potenciais receptores, eliminando o processo lento que hoje é feito por telefone. A próxima etapa será otimizar a fase de coleta de informações sobre o órgão, etapa chamada de “entrada”, o que agilizará ainda mais todo o processo.

“Os profissionais que atuam com transplante de órgãos já sentiam há tempos a necessidade de ter acesso aos dados de doadores de forma mais segura e precisa. Muitas vezes, o que ocorre é o médico receber uma ligação na madrugada e anotar em um papel mais próximo as informações passadas por telefone”, relata a Dra. Luciana Haddad, membro do grupo de pesquisa idealizador do app e médica-assistente de cirurgia do aparelho digestivo do Hospital das Clínicas de São Paulo.

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Com o eTransplante, a estimativa é que o tempo de busca por um receptor compatível caia pela metade. Também será possível encontrar em menor tempo o receptor mais compatível, aumentando as chances de sucesso do procedimento. “Quanto menor o tempo de espera pelo órgão a ser doado, menos medicamento ele recebe e mais saudável ele estará para o novo paciente”, explica a Dra. Luciana.

Las Vegas
O sistema foi aprovado para apresentação na International Conference on Applied Human Factor and Ergonomics. O evento é um fórum internacional promovido pela IBM para divulgação e intercâmbio de informações científicas nas áreas de ergonomia e saúde, que ocorre em julho, na cidade de Las Vegas, Estados Unidos.

A equipe da professora Cristina, formada por sete alunos, iniciou uma campanha de financiamento coletivo para que pelo menos um integrante do grupo participe do evento. O valor a ser alcançado é R$ 15 mil, mas, até o dia 22 desde mês, as doações somavam apenas R$ 1.155.

O Brasil é o segundo no mundo em número absoluto de transplantes, atrás apenas dos Estados Unidos. De acordo com dados da Associação Brasileira de Transplantes de Órgãos (ABTO), se consideradas apenas as cirurgias pelo Sistema Único de Saúde (SUS), foram 21 mil transplantes em 2014, 30% deles de rim.


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