Os passos firmes do tango estão sendo confirmados pela ciência como uma forma divertida de amenizar as dificuldades de locomoção e de controle motor que caracterizam a doença de Parkinson. Na última semana, uma pesquisa realizada na McGill University, no Canadá, forneceu mais uma evidência de que a dança argentina representa uma ótima opção terapêutica para os pacientes.

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O trabalho foi conduzido pela pesquisadora Silvia Rios Romenets e avaliou a evolução clínica de 40 pacientes. Durante três meses, eles participaram de aulas semanais de tango, além de continuarem sob medicação adequada. Ao final do período, todos manifestaram melhora evidente. “A dança teve um forte impacto positivo para o equilíbrio e para a mobilidade funcional”, explicou à ISTOÉ a cientista Silvia. “Também observamos benefícios para a habilidade cognitiva e a redução do cansaço.”

Estudos anteriores apontaram efeitos semelhantes. Um deles, publicado no Journal of Neurologic Physical Therapy, comparou os resultados do tango e de exercícios comuns nas condições de pacientes submetidos a um treinamento de treze semanas. Em linhas gerais, houve progresso nos dois grupos, mas entre aqueles que participaram das aulas da dança houve benefício mais evidente no equilíbrio e mobilidade. Outro trabalho, feito na Universidade de Washington (EUA), mediu os efeitos dos passos argentinos e do foxtrote. Os cientistas observaram melhora dos sintomas nos dois grupos de pacientes, mas algumas habilidades, como o equilíbrio, foram marcadamente aprimoradas com o tango.

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Os pesquisadores querem entender melhor as razões que geram os benefícios. Algumas estão identificadas. No tango, os passos são freqüentemente interrompidos e continuados e há muitas mudanças de direção e de também de velocidade. Essas características atingem exatamente algumas das dificuldades provocadas pela doença: iniciar os movimentos, girar e tornar os passos mais rápidos. “E como há muitos passos andando para trás, a dança também ajuda a prevenir quedas de costas, um dos problemas de quem sofre da doença”, afirma a cientista Silvia Romenets.

Exames de imagem já demonstraram que os passos impõem maior atividade nos gânglios basais, estruturas cerebrais envolvidas no processamento de várias funções, entre elas a do movimento. O Parkinson, assim como outras enfermidades caracterizadas por dificuldades no controle motor e de movimentos, está associado a disfunções no funcionamento destas estruturas.

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O impacto na cognição também chama a atenção. Por requerer maior concentração para que os passos sejam executados corretamente, o tango acaba exigindo mais de capacidades como a memória. “Há maior controle da atenção e reforço no desenvolvimento da habilidade de aprender novos movimentos e, ao mesmo tempo, misturá-los ao que já foi registrado”, diz Silvia.

Há ainda o benefício da interação social e da melhora do humor. Muitos dos pacientes acabam se isolando ou abandonam programas de exercícios convencionais por pura falta de motivação. A prática da dança exige interação e proporciona um ambiente mais animado. “Além disso, há uma conexão entre a música e o sistema dopaminérgico, envolvido na manutenção do humor”, diz a cientista Silvia. “Combinar a música com o exercício da dança pode, portanto, aumentar o prazer e a motivação para continuar na atividade”, completa.