À primeira vista, parecia um casamento como qualquer outro. A noiva usava um delicado vestido branco, com direito a um longo véu de tule, e o noivo trajava um elegante terno preto. Após a cerimônia, o novo casal recebeu os convidados num restaurante, onde comemoram com danças típicas. Mas as bodas de Kheda Goylabiyeda, 17 anos, com Nazhud Guchigov, 47, no sábado 16, na Chechênia, causaram enorme polêmica e provocaram manisfestações na Rússia e em diferentes países do mundo. A adolescente, que demonstrou profunda tristeza durante todo o evento, foi forçada a casar, ameaçada de sequestro pelo futuro marido. Para piorar, o noivo, chefe de polícia e aliado do presidente da Chechênia, Ramzan Kadyrov, presente à cerimônia, já é casado e a poligamia não é permitida por lá.

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O casamento de Kheda e Guchigov, que relembra a Idade Média, não é um acontecimento raro atualmente, em pleno 2015. Um levantamento da ONG Plan International revelou que até 2020 cerca de 140 milhões de meninas terão sido obrigadas a se casar e que diariamente 39 mil oficializam a união contra a própria vontade. Outro relatório das Nações Unidas também aponta para um cenário assustador. Anualmente, 15 milhões de mulheres se casam antes de completar 18 anos em todos os continentes. O sul da Ásia concentra 56% dos casamentos infantis, a África Subsaariana 46%, o leste e o sul da África 38%, América Latina e o Caribe 30% e o Oriente Médio e o norte da África 24%. “O casamento é uma violação de todos os direitos da criança, ele força as meninas a assumir responsabilidades para as quais elas não estão física e psicologicamente preparadas”, diz uma declaração da ONU em prol dos direitos das crianças e das mulheres.

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Os números expõem uma realidade sombria para essas adolescentes. Segundo especialistas, depois de casadas, as garotas enfrentam uma rotina de violência no lar, onde são abusadas e sofrem tratamento degradante. Outra conse­quência que rouba a infância é o impacto no direito à educação e à saúde. “As meninas que se casam cedo muitas vezes tem de abandonar as escolas reduzindo significativamente sua capacidade de adquirir habilidades e são condenadas a uma vida com poucas perspectivas”, afirma Concha López, diretora da Plan International. Também são mais propensas a engravidar em uma idade precoce e, por isso, enfrentam maior risco de morte materna e lesões em função da atividade sexual prematura.

Fotos: AP Photo