Nem parecia o mesmo cenário da Nova York em 2010, quando a plateia que lotava o salão nobre do hotel Waldorf Astoria recebeu efusivamente Dilma Rousseff, então candidata do PT à presidência da República. Na época, a ex-ministra do governo Lula roubara a cena de Henrique Meirelles, então presidente do Banco Central, eleito “Person of the Year” pela Brazilian American Chamber of Commerce. Cinco anos depois, na terça-feira 12, o mesmo jantar Black Tie no emblemático hotel nova-iorquino erguido nos anos 30 foi uma revoada dos Tucanos, “cheia de significados”, como frisou o brasileiro homenageado da noite.

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O ex-presidente americano Bill Clinton

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A 47A edição do “Homem do Ano” premiou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-presidente americano Bill Clinton. Aos 84 anos que serão completados em junho, FHC foi o pop-star da noite. Ovacionado, demorou meia hora para atravessar os salões rumo ao elevador ao final da cerimônia, tal era a perseguição de fãs por selfies e cumprimentos. Mesmo quando o esperadíssimo Bill Clinton surgiu no palco, embalado pelo suingue de “Don’t Stop”, canção pop americana, FHC manteve-se como o protagonista da festa. Clinton o definiu “o homem certo na hora certa”, quando o conheceu em 1994. Hoje, creio que é o homem certo para todas as horas”.

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Em seu discurso, salpicado de sutis críticas ao governo Lula como as crises que não eram “marolinhas” ou mesmo o “nunca antes neste País”, FHC não mencionou Dilma mas também não poupou os 12 anos de governos petista. “O castelo de cartas desfez-se ao sopro da realidade! Tão grave quanto este desvio de boas práticas foi a pretensão de sustentar o poder a partir de políticas de hegemonia partidária pregada e posta em ação por grupos que se autodenominam de “vanguarda”, discursou, em um texto de seis paginas. “O roteiro da retomada da decência e do crescimento econômico que permita partilhar melhor a riqueza é conhecido.” Os senadores Aécio Neves e José Serra deixaram a semana agitada no Congresso somente para prestigiar o grão-tucano. O governador Geraldo Alckmin, que apresentaria a palestra por que investir em sao Paulo”, no seminário Lide Business Meeting, comandado por João Doria Jr, também estava no gala.

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Quebrando um protocolo de quatro décadas, Dilma não mandou a tradicional congratulação presidencial ao homenageado da vez. Nem enviou representantes. Na noite que reuniu todos os grandes banqueiros brasileiros, entre Roberto Setubal, Pedro Moreira Salles, Luiz Trabuco, André Esteves e José Olympio Pereira, nem o presidente do Banco do Brasil, Alexandre Abreu, nem o presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, passaram por lá.

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Diante de uma plateia de 1.500 pessoas, Bill Clinton chegou mais de 40 minutos depois de FHC ter sido chamado ao palco ao som da Bachiana numero 5 de Heitor Villa Lobos. Na noite dos pinguins-tucanos, o ex-presidente americano era o único que não usava Black Tie. Nizan Guanaes, que o anunciou na premiação, conta que só relaxou quando viu uma diet-coke geladíssima chegando ao assento que era reservado ao marido de Hillary Clinton na mesa do palco. “Quando saí de casa, ele ainda estava ao vivo no Late Show do David Letterman”, comentou Nizan, elogiado em seu discurso que lembrou que a palavra saudade não tem tradução para inglês, mas . Eu estava apreensivo porque ele não chegava, mas sabia que ele jamais faltaria porque ama o Fernando Henrique.” Uma hora antes, no “late show” da CBS, Clinton declarou que só moraria de novo na Casa Branca se fosse convidado por Hillary, no caso de sua vitória na sucessão presidencial. O homem do ano americano dedicou seu discurso ao homem do ano brasileiro.

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Menos de sete horas depois, no dia seguinte, Fernando Henrique abriu a apresentação do governador Geraldo Alckmin no Lide Business Trip, sob gentis protestos a Doria pelo horário 7h30 . Pouco antes de dar declarações de que ‘os malfeitos começaram no governo Lula’, ele falou com exclusividade à coluna sobre como vê o papel do ex-presidente hoje, com quem sempre teve uma relação respeitosa: “Vejo Lula recolhido. Deve estar refletindo sobre essa situação toda. Quem sabe ele bote a mão no coração e diga: ‘Às vezes eu também errei’”.

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