Paraisópolis é a mais rica e escolarizada favela de São Paulo – e provavelmente do País. Agora, ela vai se tornar famosa. A comunidade foi escolhida para servir de cenário da nova novela da Rede Globo das 19 horas, “I Love Paraisópolis”, que estreia na segunda-feira 11. Com texto de Mario Teixeira e Alcides Nogueira, e direção-geral de Wolf Maya, o programa acompanha a trajetória de duas irmãs, Marizete (Bruna Marquezine) e Pandora (Tatá Werneck), que vivem na favela e trabalham em uma padaria. Morador do Morumbi, o arquiteto Benjamin (Maurício Destri) é de família rica, mas frequenta a comunidade desde criança e dedica a vida à urbanização do local.

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MOLDURA
Bruna Marquezine, como Marizete, pedala na verdadeira Paraisópolis
durante as gravações da nova novela

As diferenças sociais que servem como motor do conto de fadas em que a menina pobre e linda e o menino rico e bom fazem a ponte entre mundos opostos se apóia na vida real, mas não a traduz completamente.

Renato Meirelles, responsável pelo Data Favela, diz que Paraisópolis é um dos maiores faces de contato entre muito ricos e muito pobres do País, graças a sua proximidade com o Morumbi. “É fascinante você ter esses dois universos separados por uma única rua. Mais do que discutir a diferença social, queríamos ver e entender como essas duas arenas interagem”, diz o roteirista da Globo Alcides Nogueira. Para o diretor-geral Wolf Maya, o contraste entre os lugares é elemento fundamental para a trama. “A novela retrata a relação eternamente contada no teatro e na literatura de uma vila ou comunidade vizinha ao poder. A relação e o embate dos personagens são atuais, mas é uma história que poderia acontecer em qualquer época ou lugar do mundo”, diz.

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O antagonismo está presente desde as origens da comunidade, que não é considerada oficialmente um bairro. Presidente da União de Moradores e Comércio de Paraisópolis, Gilson Rodrigues conta que a ocupação começou ainda na década de 50, por trabalhadores que ajudavam a construir o estádio do Morumbi e o Hospital Israelita Albert Einstein. Rodrigues foi procurado pela produção da novela para a preparação da trama. “Procuramos estabelecer uma parceria que pudesse nos beneficiar também”, diz ele. O líder comunitário afirma que o personagem Cícero, um fiscal da Alfândega interpretado por Danton Mello, foi inspirado nele. “Algumas situações foram inspiradas por pessoas reais. Os autores vieram aqui, bateram um papo com as pessoas. A Lilica (Thainá Duarte), por exemplo, é uma aluna de balé igual a Mariana, outra moradora”, conta.

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Essa proximidade com a vida local, no entanto, não reflete os problemas mais importantes da favela. Embora mais desenvolvida que a média brasileira, a região ainda sofre com altas taxas de analfabetismo e a falta de um hospital público. “A novela é uma comédia de costumes, leve e arejada. A realidade fica para ser impressa nos jornais. O povo, mesmo com os pés no chão, quer é sonhar”, afirma o roteirista Mario Teixeira. Para efeitos de sonho, Paraisópolis foi o melhor que o departamento de teledramaturgia da Rede Globo encontrou para falar da vida nos barracos.

Fotos: Zé Paulo Cardeal/TV Globo, Eduardo Knapp/Folhapress; TV Globo/Divulgação