Criada em 1800 pelo italiano Alexandre Volta, a bateria foi um dos equipamentos que menos avançou ao longo dos últimos dois séculos. Caros, pesados, nem sempre confiáveis e costumeiramente muito poluidores, reservatórios de energia jamais chegaram ao ponto de permitir que a humanidade conseguisse dissociar a geração de eletricidade do seu consumo em grande escala. Seja em uma gigantesca hidrelétrica como Itaipu, em uma usina movida carvão mineral ou em uma central nuclear, toda a energia produzida precisa ser consumida instantaneamente. Mas Elon Musk, o fundador da empresa de pagamentos eletrônicos PayPal e hoje presidente da fabricantes de carro Tesla, quer mudar isso.

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LIMPO
Elon Musk, o presidente da Tesla, apresenta sua nova linha de baterias
domésticas em evento nos Estados Unidos

Há pouco mais de uma semana Elon anunciou o lançamento do que ele acredita ser a maior revolução da eletricidade desde que Volta criou as placas voltaicas há 2015 anos: um sistema de baterias domésticas que pode permitir que o consumidor comum gere a sua própria energia elétrica. E o melhor, de maneira limpa, sem poluir o meio-ambiente. Batizada de Powerwall, as baterias da Tesla são foram desenvolvidas para serem instaladas em qualquer casa ou apartamento que faça geração de energia a partir do sol, com placas voltaicas, permitindo que o usuário se desligue da rede elétrica nos momentos em que a tarifa é mais alta – como a noite ou no início da manhã – e utilize a eletricidade gerada durante o dia. Com design elegante, as baterias começam a ser entregues pela Tesla em agosto, mas sua pré-venda já começou.

Em menos de uma semana a Tesla já recebeu a encomenda de aproximadamente 40 mil unidades da Powerwall. Surpreendida pelo imenso sucesso, na quinta-feira 7 Elon Musk anunciou que novos pedidos só começarão a ser entregues apenas no segundo semestre de 2016. “Esgotamos nossa capacidade de produção, não achávamos que teríamos uma resposta tão rápida e deste tamanho”, afirmou o executivo em uma conferência com analistas financeiros. Ele se disse surpreso também pelo fato de a série de baterias que lançou para o setor industrial não ter atraído a mesma atenção. “Mas continuamos achando que as baterias de maior porte irão conquistar o mercado”, disse.

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É fácil entender o apelo do produto lançado pela Tesla. A produção e o consumo de energia hoje estão diretamente ligadas aos combustíveis fósseis. Apesar da crescente produção de energia a partir de fontes renováveis, o carvão, o óleo e o gás respondem por mais de 60% da geração de eletricidade no mundo – e por uma imensa quantidade de gás causadores do efeito estufa. Por conta disso, um número cada vez maior de pessoas tem se esforçado para produzir a própria energia de forma limpa, a fim de contribuir para a redução dos agentes causadores das mudanças climáticas que estão sendo registradas em todo mundo. Na outra ponta, há, também, um interesse crescente em reduzir custos de energia, que, a cada ano, tem ficado mais cara e menos abundante.

Para o professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo, Alberto Zilles, a bateria tem potencial para conquistar uma fatia importante do mercado por conta dessas características. “ O mais interessante dela é a possibilidade dessa gestão ativa da demanda. Você coloca inteligência no sistema. Até por que essa produção distribuída, com microgeradores, é uma tendência em muitos países”, diz ele. Outro ponto favorável, na visão do professor da USP, é a capacidade de armazenamento da Powerwall.

A Tesla colocou no mercado três versões do produto: uma com 7Kw/h de potência, uma segunda com 10 kW/h e uma terceira, para uso industrial, de 100 Kw/h. “A bateria sozinha não permite que as pessoas possam simplesmente produzir toda a energia que precisam”, diz ele. “Mas ela tem potencia suficiente para permitir que uma residência com até quatro pessoas que passem o dia fora possam usar a energia armazenada que foi gerada durante o dia”, afirma ele, ressaltando, no entanto, que isso não significa que haverá ganhos financeiros. “Há todo o custo do investimento da bateria e dos painéis, ainda é cedo para dizer se há vantagem econômica”, diz. Não há previsão para as baterias da Tesla chegarem ao Brasil.

Foto: Kevork Djansezian/Getty Images/AFP
Ilustração: Fernando Brum