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O ex-diretor de Internacional da Petrobras Nestor Cerveró afirmou na terça-feira, 5, à Justiça Federal, em Curitiba, que morou dois anos sem pagar aluguel em um apartamento de R$ 7,5 milhões, localizado na praia de Ipanema (RJ) – um dos metros quadrados mais caros do Brasil. O duplex de luxo está registrado em nome da Jolmey do Brasil Administradora de Bens Ltda, uma filial da uruguaia Jolmey S/A, aberta pelo advogado Oscar Enrique Algorta Rachetti, no Uruguai.

Para a força-tarefa da Operação Lava Jato, Cerveró é o verdadeiro dono do imóvel. "O senhor não acha estranho o senhor morar dois anos de graça em um apartamento?", questionou o juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos da Lava Jato. "Mas eu não acho", respondeu. "Foi uma compensação."
 
Cerveró foi interrogado pelo juiz na ação penal em que é réu ao lado do advogado uruguaio Algorta e do lobista Fernando Antônio Falcão Soares, o Fernando Baiano – acusados por crime de lavagem de dinheiro envolvendo a compra do apartamento, em 2009.
 
A Jolmey teria sido usada por Cerveró para ocultar o patrimônio, originado de propina operada por Fernando Baiano, em nome do PMDB, na Diretoria de Internacional. Os recursos e a operação de lavagem teriam sido feitas por Algorta.
 
"Parte dos valores voltou ao Brasil em simulação de investimentos na empresa Jolmey do Brasil Administradora de Bens Ltda, uma filial da uruguaia Jolmey S/A". A denúncia do MPF aponta que as duas empresas eram de Cerveró, apesar de registradas em nome de terceiros.
 
A Jolmey do Brasil Administração de Bens Ltda foi aberta em novembro de 2008, em nome do advogado Marcelo Oliveira Mello – ex-jurídico da Petrobras que trabalhou com Cerveró.
 
Segundo Cerveró, a Jolmey era de Algorta que, em 2008, propôs que ele intermediasse negócios no Brasil no mercado imobiliário. "Ele disse que representava clientes no Uruguai que queriam investir em imóveis no Rio."
 
"Assumi compromisso com Algorta, ele conversou com um cliente dele e fizemos esse acordo, ele comprou o apartamento por R$ 1,5 milhão", declarou Cerveró.
 
Denúncia do Ministério Público Federal informa que o apartamento no bairro de Ipanema, no Rio, foi adquirido pela Jolmey do Brasil por R$ 1,532 milhão e depois reformado com R$ 700 mil. O imóvel está avaliado atualmente em R$ 7,5 milhões.
 
Segundo o MPF, desde o início o apartamento pertencia a Cerveró. Depois da reforma, a propriedade foi alugada ao ex-presidente da estatal por R$ 3.650, valor abaixo do de mercado. Relatório da Receita Federal aponta que o apartamento teria sido alugado da Jolmey do Brasil entre 2009 e 2011.
 
"A locação teria iniciado em junho de 2009, pelo valor de R$ 3,5 mil mensais." Em 2011, o último aluguel registrado foi de R$ 4 mil. "Nos anos de 2012 e 2013, segundo Declaração de Imposto de Renda de Cerveró, mesmo pagou à locadora o montante total de, respectivamente, R$ 9,8 mil e R$ 9 mil."
 
O ex-diretor afirmou que foi feito um acordo verbal, sem registro, de que ao final da reforma ele poderia comprar ou morar no imóvel pagando aluguel com preço de mercado – a ação cita o valor de R$ 18 mil mensais.
 
Cerveró argumentou que o pagamento de aluguel era baixo, segundo ele, porque ele administrava as outras despesas do imóvel e que havia um acordo comercial de que ao final ele ou compraria o duplex ou passaria a locá-lo pelo preço de mercado.
 
"Não tinha dia certo para pagar aluguel, era uma relação diferenciada, era uma relação de investimentos", explicou o ex-diretor.
 
Ex-advogado da Petrobras
 
Cerveró confirmou que indicou o ex-advogado da Petrobras para Algorta para que fosse efetivado o negócio. Foi em seu nome que foi registrada a filial da Jolmey no Brasil. "Eu indiquei Marcelo, porque a ideia do Algorta era essa, criar uma empresa no Uruguai e uma subsidiária no Brasil que seria proprietária do imóvel desse cliente."
 
No papel Algorta era o presidente do Conselho de Administração da Jolmey S/A e, segundo o MPF, o "mentor intelectual" da operação que beneficiou o ex-diretor da Petrobras.
 
Mello foi ouvido pela Polícia Federal e confirmou que foi procurado há sete anos por Cerveró e pelo advogado uruguaio Algorta para montar uma subsidiária brasileira da Jolmey. Segundo ele, o ex-diretor "tratou pessoalmente do assunto".
 
Numa troca de e-mail em poder da Lava Jato, há registro de mensagem entre um funcionário do escritório de Mello, de 2010, em que ele pede uma reunião com Cerveró, a quem trata de "dono da Jolmey" para que "a melhor estratégia seja tomada para mitigar o risco de exposição fiscal do cliente".
 
Suspeita
 
As declarações de Cerveró em seu interrogatório foram consideradas suspeitas pelos investigadores da Lava Jato. No ano passado, pouco depois de ser deflagrada a Operaçõa Lava Jato, um substituto foi colocado no lugar de Mello, como sócio da Jolmey Brasil, e a família de Cerveró deixou o duplex em que moravam sem pagar aluguel desde 2011.