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Ao comentar os resultados na quarta-feira, o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, prometeu para daqui a aproximadamente 30 dias a apresentação do novo plano de negócios para os próximos cinco anos. O plano de negócios 2014-2018, apresentado em fevereiro de 2014, prevê investimentos de US$ 220,6 bilhões. A expectativa de analistas é que a nova versão do plano venha menor.

Livre do peso do longo atraso na divulgação de dados financeiros auditados ao mercado, a Petrobras voltou a enfrentar as desconfianças de sempre. Durante a teleconferência realizada na quinta-feira pelos executivos da empresa para explicar os dados do balanço, os analistas financeiros concentraram suas perguntas sobre o endividamento da estatal e sua capacidade de aumentar a produção para fazer caixa.

Na Bolsa, a reação foi confusa, com forte oscilação das cotações. As ações ON (ordinárias, com direito a voto nas principais decisões da empresa) subiram 5,63%, para R$ 14,06, refletindo o alívio com a divulgação do balanço. Já os papéis PN (preferenciais, sem direto a voto) caíram 1,52%, a R$ 12,92, afetados pelo anúncio de que, por causa do prejuízo, a estatal não pagará dividendos, a parte do lucro que cabe aos acionistas – os papéis PN têm preferência na hora de receber os pagamentos. “A divulgação do balanço da Petrobras sem dúvida alivia a situação, porque elimina o risco de uma aceleração no pagamento das dívidas da companhia”, afirmou Caio Toledo, analista da XP Investimentos.

Em linhas gerais, o prejuízo de R$ 21,587 bilhões em 2014, o primeiro resultado negativo anual desde 1991, causado por perdas de R$ 6,194 bilhões com gastos relacionados à corrupção e de outros R$ 44,636 bilhões com a revisão no valor dos ativos, não assustou investidores. A publicação do balanço, após cinco meses de adiamentos, e uma definição sobre o quanto registrar de perdas foram considerados “um alívio”.

A agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) disse que a nota da Petrobras não é afetada pelo balanço. Apesar de reconhecer que as baixas contábeis não afetam as métricas da companhia, a agência disse que a perspectiva negativa para a nota reflete incertezas sobre a capacidade de aumentar a produção.

Os analistas do banco Credit Suisse André Sobreira e Vinicius Canheu escreveram em relatório a clientes que os valores retirados como perdas do balanço “parecem grandes o suficiente para ter credibilidade”, mas investimentos estimados de US$ 29 bilhões, neste ano, e de US$ 25 bilhões, em 2016, não foram reduzidos na medida necessária diante de uma previsão de geração de caixa de US$ 23 bilhões neste ano.

Dívidas
Com dificuldade de gerar caixa e diante de um ambicioso plano de investimentos no pré-sal, a Petrobras se endividou demais. A dívida líquida soma R$ 282 bilhões e subiu 27% em 2014 em comparação a 2013. Ela representa 48% do patrimônio da companhia, muito acima do limite de 35% estabelecido pela própria empresa.

Por isso, investidores esperam que a Petrobras venda ativos e reduza investimentos. “Esperamos que os investidores foquem nos impactos da revisão do plano de negócios e na geração de caixa dos próximos dois anos”, escreveu o analista do Citibank Pedro Medeiros, em relatório distribuído nesta quinta-feira.

Na teleconferência, a diretoria da Petrobras reforçou a estratégia de analisar a venda de ativos exploratórios, com o objetivo de compartilhar riscos e reduzir os investimentos. Segundo a diretora de Exploração e Produção, Solange Guedes, a companhia olha “com atenção” as oportunidades. “Olhamos com atenção ativos onde nós podemos compartilhar riscos”, disse Solange.

Divulgação do balanço do primeiro trimestre será em 15 de maio
A Petrobras anuncia que o balanço do primeiro trimestre de 2015 será discutido em reunião do conselho de administração marcada para o dia 15 de maio. "A companhia espera divulgar as demonstrações contábeis ao mercado, após a decisão do CA (Conselho de Administração)", informa, em nota ao mercado.

No último dia 22, quando apresentou os demonstrativos de 2014, o presidente da Petrobras, Aldemir Bendine, afirmou que a previsão era divulgar os resultados relativos ao primeiro trimestre de 2015 em maio, provavelmente no dia 15, data-limite estipulada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para o período.

PLR
Apesar do prejuízo de R$ 21,6 bilhões registrado no ano passado, a Petrobras vai pagar R$ 856 milhões aos seus empregados a título de Participação nos Lucros e Resultados (PLR). O Acordo Coletivo de Trabalho, firmado em setembro do ano passado, prevê que a companhia pague um valor mínimo de participação nos lucros mesmo quando for registrado prejuízo. O argumento é que a PLR se aplica sobre as atividades operacionais dos trabalhadores, como o resultado da produção.

A empresa pode não ter lucrado, mas os resultados da produção foram muito bons, com o lucro bruto aumentando 15%, e refletem o comprometimento do corpo técnico da Petrobras, que não pode ser confundido com o bando que assaltou a empresa", disse Silvio Sinedino, representante dos trabalhadores no conselho de administração da estatal.

Sinedino destaca que o prejuízo registrado no balanço é consequência direta da corrupção e da perda de valor dos ativos. "Sem esta medida saneadora, a Petrobras teria apresentado um lucro líquido acima de R$ 20 bilhões. O lucro bruto, por exemplo, teve um aumento de 15% em relação a 2013, passando de R$ 70 bilhões para R$ 80 bilhões." Apesar de milionário, a PLR deste ano será 58% menor que a paga no ano passado.

Voto contra
O representante dos trabalhadores no conselho rejeitou os dados e a metodologia proposta para as perdas com corrupção no balanço da Petrobras. Para ele, o relatório contém "erros graves" em relação à baixa contábil da Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco. O primeiro trem da Refinaria não foi incluído entre os ativos afetados por desvios de corrupção no relatório.

O documento considera apenas perdas de R$ 9,1 bilhões relativas ao adiamento da segunda etapa (trem) suspensa diante da atual limitação de caixa da empresa. "Não baixar agora o que já se tem certeza – o sobrepreço no primeiro trem da Rnest – significa que daqui para a frente a rentabilidade será sempre rebaixada em função desse peso morto que estaremos carregando", publicou Sinedino em seu site.

Uma das principais obras sob investigação da Operação Lava Jato, a refinaria partiu de um orçamento de US$ 2,3 bilhões para US$ 18,5 bilhões.