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Com menos de R$ 5 mil, dificilmente compra-se uma obra de arte em uma galeria. Mas por 50 contos você leva para casa uma "camiseta-arte". Leva, veste e lava até ela ficar velha. Mas camiseta é arte? "Tem valor artístico, sem ser um objeto de ostentação. Você usa, gasta e joga fora. É um valor passageiro", diz Leandro da Costa, que tem uma coleção de camisetas à venda no Tijuana, espaço paulistano destinado à comercialização de trabalhos em série com tiragem ilimitada. Nas peças, Leandro da Costa criou um selo que brinca com a sinalização de obras dentro da galeria. O selo informa título e data da "obra": "s/título 2008"; "técnica: silk"; "material: tinta/100% algodão".
Leandro da Costa não está só. Há outros artistas do primeiro time vestindo a camiseta como suporte artístico. Laerte Ramos, paulistano representado pela galeria Laura Marsiaj, no Rio, prepara para novembro o lançamento da marca Ramorama, que tem como slogan a frase "expose yourself" (exponha-se) e veiculará camisetas de diversos artistas, como Keila Alaver e André Komatsu. Já Mauricio Ianês, selecionado para a 28ª Bienal de São Paulo, encara a peça como uma extensão da performance. "Me chamam a atenção os aspectos psicológicos e sociais que envolvem o vestir. A camiseta é usada em público, na rua, e não em um ambiente fechado. Ela carrega uma mensagem com um alcance maior do que aquele de uma obra em um espaço reservado para a arte", diz Ianês. A camiseta também funciona como "arte de rua" para Pedro Falcão e o coletivo Satisfação Garantida. No projeto Buerogravura, Falcão assume a camiseta como uma forma de intervenção urbana. Afinal, ele grava suas estampas a partir de bueiros, ralos, calçadas, grades. "Gosto de provocar um novo olhar para as coisas ordinárias", diz o artista, que vende na Casa da Xiclet. A relação entre camiseta e arte de rua é evidente. Junto com o boné e o tênis, a camiseta forma o tripé da street wear e funciona como expressão e ganha-pão de muito grafiteiro. Curiosamente, a galeria e editora Choque Cultural, espaço paulistano dedicado à arte urbana, em seu projeto Choque na Banca de Camisetas só expôs livros, pinturas e gravuras em formatos "tradicionais". "Pretendemos estreitar nossos laços com as camisetas, mas primeiro vamos ‘dar um grau’ na editora e colocar mais gravuras e livros de arte na praça", diz o diretor Baixo Ribeiro. "Muitos dos artistas da galeria trabalharam comigo em marcas de skate e street wear. Eu acompanhava a garotada colecionando camisetas com desenhos do Speto, Herbert, Tinho, Nunca, etc. Mas achava que seria legal se os artistas pudessem assinar trabalhos mais pessoais", diz ele. A idéia é limitar a circulação para valorizar. Há uma inversão de valores aqui. Enquanto a Choque "dá um grau" no artista de rua, aqueles que estão no mercado assumem a camiseta como uma mídia de circulação ilimitada e potencial altamente popular. Os preços variam de R$ 30 a R$ 120.

Acidez pop

Arte Pop na coleção do IVAM / Museu de Arte Contemporânea do Dragão do Mar, Fortaleza/ até 16/10
No final dos anos 50, na Inglaterra, o recém -nascido pop era uma arte "popular, transitória, consumível, de baixo custo, produzida em massa, jovem, espirituosa, sexy, chamativa, glamourosa e um grande negócio", segundo definição do britânico Richard Hamilton. A fórmula pegou bem na sociedade de consumo americana e foi rapidamente exportada para o mundo. Na Espanha, o pop conviveu com as últimas décadas da ditadura de Franco, o que o diferenciou da produção americana. A coleção do Instituto Valenciano de Arte Moderna, da Espanha, é uma oportunidade de conhecer uma vertente mais crítica e ácida do pop. A exposição coloca lado a lado espanhóis como o trio Equipo Crônica, o francês Yves Klein, o alemão Gerhard Richter e a americana Cindy Sherman (foto). O mundo é pop. Só falta o brasileiro Nelson Leirner.