O caminho de Hillary Clinton para a presidência dos Estados Unidos começou na semana passada, quando a ex-primeira-dama percorreu, em uma van, 1,6 mil quilômetros do Estado de Nova York para Iowa, logo após oficializar sua candidatura. A longa viagem – na jornada, ela participou de diversos eventos de campanha – ilustra a firme disposição de Hillary em suceder Barack Obama. Nos últimos dois anos, a mulher do ex-presidente Bill Clinton fez suspense sobre seu futuro político, mas preparou o terreno com o lançamento de um livro de memórias baseado no período em que chefiou o Departamento de Estado, no primeiro mandato Obama. A confirmação de sua pré-candidatura pelo Partido Democrata chegou no domingo 12 com um vídeo divulgado nas redes sociais, em que só aparece da metade para o final.

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ÚLTIMA CHANCE
Aos 67 anos, Hillary Clinton se prepara para a
segunda tentativa de concorrer à presidência

“Estou me preparando para fazer algo também”, diz. “Estou me candidatando a presidente.”
Aos 67 anos e em sua segunda e provavelmente última chance de ser presidente, Hillary não tem tempo a perder. Na tentativa de não repetir os erros de 2008, quando perdeu para Obama a indicação do Partido Democrata, a candidata modernizou sua comunicação com potenciais eleitores e doadores e definiu uma mensagem principal para a campanha. Hillary quer direcioná-la, sobretudo, à classe média e aos trabalhadores, sem esquecer das minorias, como hispânicos e homossexuais, também representados em seu vídeo inaugural. Na turnê para Iowa, em vez de discursos em grandes auditórios, preferiu visitas a cafeterias e escolas, e conversas com cidadãos comuns. “Ela está disposta a ouvi-los”, disse à ISTOÉ o sociólogo e pastor Tony Campolo.

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Ex-conselheiro espiritual de Bill Clinton, Campolo tem apoiado Hillary abertamente. Segundo ele, que hoje em dia costuma se encontrar com os Clinton ao menos duas vezes por ano, Hillary passou a considerar concorrer à presidência quando George W. Bush estava no poder. “Ela se incomodava com o fato de que, enquanto o custo de vida subia dramaticamente, os trabalhadores continuavam ganhando o mesmo que 20 anos atrás”, afirma. Agora a ex-primeira-dama garante estar empenhada em aumentar o salário mínimo, limitar os juros cobrados pelos bancos e oferecer assistência médica universal. “Hillary mostrou comprometimento com suas promessas quando o escândalo Monica Lewinsky estourou”, afirma o pastor, em referência à relação extraconjugal do ex-presidente com uma estagiária, em 1998. “Muitas mulheres teriam terminado o casamento, mas ela manteve-se fiel ao juramento de que estaria ao lado de seu marido nos bons e nos maus momentos.” Mudar de lado em questões fundamentais, Hillary só mudou uma vez. Antes de estudar Direito na Universidade de Yale, frequentou uma faculdade exclusiva para mulheres, em Massachusetts. Na Wellesley College, militou para o Partido Republicano, mas depois se descobriu democrata e ali permaneceu.

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Para provar sua afinidade com a desigualdade de renda enquanto tema central, Hillary deverá se distanciar de gafes que evidenciam sua posição privilegiada, como quando disse que não dirigia seu próprio carro desde 1996. “Dessa vez, Hillary quer a empatia dos eleitores”, diz Kelly Dittmar, professora do Centro para Mulheres Americanas e Política da Universidade de Rutgers, de Nova Jersey. Nesse esforço, a democrata deverá esperar menções ao fato de recentemente ter se tornado avó. Alguns artigos na imprensa americana já questionaram sua capacidade de conciliar as duas funções ao mesmo tempo. “Hillary sofre com o machismo como qualquer outra candidata”, diz Christine Jahnke, presidente da Positive Communications e media trainer especialista em mulheres que disputam cargos políticos nos EUA. “A cobertura das candidaturas femininas coloca o foco na roupa, no cabelo, no tom de voz. Mais do que os homens, as mulheres precisam demonstrar que são qualificadas para o trabalho e são amáveis.” Christine já trabalhou com a primeira-dama Michelle Obama e orientou os assessores de Hillary Clinton na campanha presidencial passada.

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Ainda que tenha uma imagem de líder global consolidada e um extenso currículo na política, com passagens pelo Senado, a democrata terá que lidar com dois desafios. O primeiro será explicar as falhas de segurança que resultaram na morte de quatro oficiais americanos num atentado ao Consulado de Benghazi, na Líbia, em 2012, quando era Secretária de Estado. O segundo será divulgar as mensagens que trocou naquela época por seu e-mail pessoal, em vez da conta oficial do governo. O escândalo levantou dúvidas sobre seu compromisso com a transparência. Mas, para muitos americanos, esse deslize não é capaz de tirar seu favoritismo. Depois de um presidente negro, teria chegado a vez de uma mulher na Casa Branca. Tracy Sefl, conselheira sênior do Ready for Hillary, resume o sentimento: “Acredito que os EUA estão preparados para eleger uma mulher como presidente. Não simplesmente uma mulher, mas uma singularmente qualificada, comprometida e experiente.”

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Fotos: Pete Souza; Lee Balterman; Donald R. Broyles