Na manhã da quinta-feira 16, Christine Lagarde, diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), deu aquele tipo de declaração que parece positiva, mas que, no fundo, tem um significado muito pior. Segundo Christine, a situação do Brasil deve melhorar no futuro, com a implementação de uma “política fiscal séria.” Depois, a chefe do FMI, que acabou se encontrando no mesmo dia com o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, foi bem mais incisiva. “Nem todo mundo vai mal, mas alguns países estão desacelerando mais que outros”, disse. “O Brasil está estagnado e a previsão é negativa neste ano.” Na mesma semana, o FMI havia divulgado um relatório que traça um cenário desolador. Entre todas as economias latinas, a brasileira só não é tão ineficiente quanto a venezuelana, que tem a maior inflação do mundo. Em 2015, o PIB do Brasil vai encolher mais até do que o argentino, que enfrenta os eternos problemas da moratória da dívida externa. Sob qualquer ângulo que se olhe, o relatório do FMI é um desalento. O México, dono de uma economia parecida com a brasileira, vai crescer 3% em 2015. Até se comparada com as grandes potências euro­peias, o PIB do Brasil perde de lavada. A Espanha avançará 2,5% neste ano. A Alemanha, 1,6%.

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Além de fazer projeções, o relatório do Fundo Monetário analisa os fatores que afetam a saúde financeira dos países. No caso brasileiro, há uma novidade. “O Brasil tem problemas que vão além do macroeconômico”, disse Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI. “Tem o problema de corrupção que conhecemos e esperamos que seja solucionado.” A corrupção afasta investidores, paralisa projetos empresariais, corrói empregos, assusta o mercado. Quando ela caminha lado a lado com a ineficiência técnica do governo, a situação fica realmente feia. “Tivemos uma sequência de erros quase inacreditável na política econômica nos últimos anos e estamos pagando um preço alto por isso”, diz o economista Claudio Roberto Frischtak, presidente da consultoria Inter.B. Não é preciso muito esforço para citar os equívocos do governo Dilma Rousseff. Gastos públicos incompatíveis com a arrecadação, descontrole inflacionário e política estabanada de juros são alguns dos problemas visíveis da atual gestão.

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CRISE
Christine Lagarde, diretora do FMI, e o ministro Joaquim Levy,
em encontro na quinta-feira 16: -O Brasil está estagnado-, disse ela

Os efeitos estão sendo colhidos agora. Na semana passada, saíram os dados da balança comercial brasileira. Em 2014, o saldo ficou negativo em US$ 4 bilhões. O Brasil teve o pior desempenho entre 30 países pesquisados. Enquanto as exportações no mundo cresceram 1% no ano passado, as brasileiras caíram 7%. O País vem recebendo nos últimos meses uma onda massacrante de indicadores ruins. Há alguns dias o IBGE divulgou os resultados do varejo para o mês de fevereiro. As vendas diminuíram 3,1% em relação ao mesmo mês do ano passado. Foi a maior queda em 14 anos.

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Desde que assumiu o ministério da Fazenda, Joaquim Levy vem batendo na mesma tecla. A saída, segundo ele, é uma só: a aprovação integral do ajuste fiscal. “O relatório do FMI chama a atenção para que a gente conclua o ajuste fiscal o mais rápido possível e tenhamos confiança para voltar a crescer”, disse ele após a divulgação do documento e pouco antes de se com encontrar Christine Lagarde, do FMI. Acertar as contas públicas, porém, é um trabalho longo e cheio de obstáculos. “A presidente Dilma enfrenta uma enorme fragilidade política e não sabemos para onde o Congresso está indo”, diz o economista Claudio Frischtak, da Inter.B. Enquanto a solução não vem, o Brasil provavelmente vai continuar dando vexame nos rankings internacionais.

FOTO: Stephen Jaffe/IMF Staff Photo