A turismóloga Lis Maria Silvério de Oliveira, de 32 anos, decidiu tirar o filho Thor, 5 anos, da escola em 2012, quando se mudou de São Lourenço para Belo Horizonte (MG). Na capital mineira, chegou a procurar opções para matricular o filho, mas nada que estivesse de acordo com sua filosofia pessoal. “Procurei um tipo de pedagogia que respeitasse o ritmo de cada criança”, diz. Desanimada com as instituições que visitou, a turismóloga resolveu abandonar o ensino formal e praticar o unschooling, método no qual as crianças aprendem de acordo com suas aptidões. É uma alternativa ainda mais radical que o homeschooling, sistema em que os pais levam os currículos da escola para a casa. Muito praticados nos Estados Unidos (leia quadro), esses métodos voltaram à discussão na semana passada por causa da jovem Lorena Dias, de 17 anos, que conseguiu na Justiça, em decisão inédita, o direito de cursar faculdade depois de estudar em casa por quatro anos. Dados da Associação Nacional de Educação Familiar (ANED) mostram que mais de 2,5 mil famílias praticam o método alternativo atualmente. “Queremos oferecer uma educação com mais qualidade, valorizar o aprendizado de cada indivíduo e as escolas não conseguem trabalhar as dificuldades individualmente”, afirma Ricardo Dias, presidente da ANED.

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LIBERDADE 
Lis e os filhos Thrud  e Thor: “procurei um tipo de pedagogia
alternativa e vou seguir assim até a faculdade”

Menos difundido no País, mas também em crescimento, o unschooling é entendido como uma negação ao modo de ensino das instituições. “Ao invés de ajudar, a metodologia criada pelas escolas pode engessar as crianças e o unschooling propõe que cada um aprenda conforme o seu interesse e aptidões”, diz Édison Prado de Andrade, doutor em educação domiciliar pela Universidade de São Paulo (USP). Thor, filho de Lis, está aprendendo a partir dessa prática. “Ele gosta de robótica, então não costumo cobrar matemática dele. Meu filho absorve assistindo vídeos de construção de aviões e drones, deixando a criatividade e o interesse fluir”, diz a mãe, que pretende manter o método até a faculdade.

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O problema é que ambas as práticas não estão regulamentadas na legislação brasileira. O Estatuto da Criança e do Adolescente e a Lei de Diretrizes e Bases determinam que os pais matriculem os filhos na rede regular de ensino a partir dos seis anos. Além disso, o Código Penal configura como crime de abandono intelectual deixar de prover a instrução primária de filho em idade escolar. Mas atualmente tramita no Congresso o Projeto de Lei número 3179/12 para legalizar o homeschooling no País. “Essas famílias vivem num vácuo porque não é uma atividade proibida nem permitida”, diz Alexandre Magno, diretor Jurídico da ANED. “Hoje não há um acompanhamento de como a educação se dá em casa e a qualidade da instrução não é avaliada pelo Estado.” Outro aspecto polêmico da educação domiciliar é a socialização. “Na escola, as crianças aprendem a enfrentar problemas e desenvolver experiências de igualdade, isso nunca vai ocorrer apenas no ambiente familiar porque as relações são estáveis”, diz Telma Vinha, pedagoga, especialista em psicologia da educação pela Unicamp.

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VITÓRIA
Depois de quatro anos estudando em casa, Lorena (segunda à esq.)
ganhou na Justiça o direito de ingressar na faculdade

Fotos: Leo Drumond/Nitro; Pedro Ladeira/Folhapress